SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na avaliação do ministro Fernando Haddad (Fazenda), com as quedas do dólar ante o real e das expectativas de inflação, a taxa básica de juros deve começar a cair em breve, atraindo investimentos.

“Não sou do Banco Central, mas tudo me leva a crer que o ciclo de corte de juros vai se iniciar em algum momento dos próximos meses. Não sei precisar, não é da minha alçada, mas eu tenho a impressão que nós vamos abrir um ciclo importante de queda de juros”, disse Haddad nesta terça-feira (16), em evento promovido pelo Banco Safra.

Economistas se dividem nas previsões sobre início de cortes na Selic, hoje em 15% ao ano. Enquanto uns veem queda em dezembro, outros, só em 2026.

Para Haddad, as expectativas de inflação estão sendo reancoradas, o que abre espaço para a queda do juro. O boletim Focus tem registrado esta tendência nas últimas semanas. A atual expectativa é que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deste ano acumule alta de 4,83%, ainda acima do teto da meta perseguida pelo BC.

“O apetite para investir no Brasil vai crescer e vai se manifestar com muito vigor a partir do início do ciclo de corte de juros. Nós conseguimos olhar para um horizonte próximo com mais otimismo em relação a um equilíbrio entre juros e câmbio mais favorável ao desenvolvimento do país”, afirmou o ministro da Fazenda.

ARCABOUÇO FISCAL

Haddad também falou sobre a saúde fiscal do Brasil, que considera estar melhorando com o arcabouço fiscal.

“O arcabouço fiscal, do ponto de vista da arquitetura, está funcionando conforme previsto. Nós temos um limite de gasto que está sendo respeitado e isso exige uma disciplina do governo para não deixar faltar recursos para investimento, saúde, educação e os programas prioritários do governo.”

Segundo o ministro, a arrecadação líquida da União deveria ser de 18,6% a 18,8% do PIB [Produto Interno Bruto] para que o país volte a ter superávit primário. O número foi buscado no melhor momento fiscal do país nos últimos anos.

“Precisa ser construído um ambiente político para que o executivo e o legislativo possam chegar a um entendimento onde cortar [gastos] porque há muito desperdício, de supersalários, de previdência do militar, uma série de coisas que representariam um ganho importante do ponto de vista das contas públicas”, disse Haddad.

CORREIOS

Questionado sobre a situação dos Correios, que veem risco de faltar dinheiro em caixa para pagar salários e outras despesas básicas da empresa até o fim de 2025, Haddad diz que a situação inspira cuidados e muita preocupação.

“A Fazenda foi envolvida na discussão sobre esse tema mais recentemente, e nós estamos acompanhando, junto com a MGI [Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos] e a Casa Civil, o desenlace dessa questão que precisa ser enfrentada rapidamente.”

A queda nas receitas e o aumento nas despesas, inclusive com sentenças judiciais, levaram a estatal a registrar um prejuízo de R$ 2,64 bilhões no segundo trimestre de 2025. O rombo é quase cinco vezes o resultado negativo verificado em igual período de 2024, quando ficou em R$ 553,2 milhões.

DATACENTERS

O ministro também mencionou que o governo Lula irá encaminhar para o Congresso Nacional um Porjeto de Lei sobre data centers, para baratear os custos e atraí-los ao país.

“O Brasil hoje é muito dependente de data centers de fora do Brasil, sobretudo nos Estados Unidos. 60% dos nossos dados hoje são processados fora”, disse Haddad.

Segundo o ministro o projeto visa antecipar efeitos da reforma tributária, deixando o custo brasileiro para essa indústria inferior à média internacional.

“Você vai ter um preço mais barato no Brasil para processar os seus dados, garantindo sigilo, proteção de dados individuais, soberania digital”, disse Haddad.