BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O novo texto da PEC (proposta de emenda à Constituição) da Blindagem prevê que presidente de partidos políticos terão foro especial e que votações para decretar prisão de parlamentares serão secretas ou seja, sem que seja possível saber como votou cada deputado. Além disso, os deputados federais e senadores só poderão ser processados criminalmente se houver aval dos colegas, o que também ocorrerá em votação secreta.
A reportagem teve acesso a uma minuta do texto que está sendo discutido em reunião do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), com líderes partidários. Na noite de segunda (15), Motta trocou o relator do texto. Antes era Lafayette de Andrada (Republicanos-MG) e agora será Cláudio Cajado (PP-BA). Cajado participa do encontro.
De acordo com relatos de três líderes que estão na reunião, a tendência é que o texto da PEC possa ser votado ainda nesta terça no plenário da Casa. A ideia é que, com essa votação, será aberto um espaço para discussão da urgência do projeto que dá anistia aos condenados pelos ataques golpistas do 8 de janeiro.
Motta avisou aos líderes que a PEC da blindagem será votado em plenário nesta terça-feira e que outra reunião deve ocorrer para debater a anistia aos condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro e pela tentativa de golpe de Estado.
Com isso, o centrão quer amarrar o apoio da esquerda e da direita à PEC, com a promessa de ajudar para aprovar ou barrar a anistia.
Para aprovar uma PEC, é necessário o apoio de 308 dos 513 deputados federais e de 49 dos 81 senadores, em dois turnos. O quórum mais alto exigiu que os congressistas do centrão negociarem com os parlamentares de esquerda e de direita, e a anistia entrou como ponto central dessa negociação.
O novo texto da PEC prevê que, além de o presidente da República, do vice-presidente, de membros do Congresso, de ministros e do procurador-geral da República, os presidentes de partidos com representação no Legislativo também terão foro especial, ou seja, serão processados e julgados pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
A proposta em discussão também diz que deputados e senadores não poderão ser presos, “salvo em flagrante de crime inafiançável” nem processados criminalmente sem que a Câmara ou o Senado autorize.
Essa autorização terá de ser deliberada pela respectiva Casa por “votação secreta de maioria absoluta de seus membros” em até 90 dias a contar do recebimento da ordem do Supremo.
O texto também determina que os parlamentares, uma vez diplomados, serão submetidos a julgamento do STF e, “a qualquer tempo, somente serão alvos de medidas cautelares de natureza pessoal ou real dele provenientes”.
O objetivo dos deputados do centrão é se blindarem de investigações sobre desvios de dinheiro em emendas parlamentares.
Até 2001, só eram permitidos inquéritos contra os parlamentares no exercício do mandato após a autorização expressa do Legislativo, em votação.
Isso fazia com que os inquéritos ficassem parados enquanto o parlamentar não perdesse o mandato. A medida foi revogada pelo próprio Congresso em 2001, num pacote ético encampado pela Câmara diante de denúncias de corrupção.
Entre os presidentes de partido atualmente sem mandato e que podem ser beneficiados estão os do PL, Valdemar da Costa Neto, do PT, Edinho Silva, do PSD, Gilberto Kassab, do União Brasil, Antonio Rueda, e do PDT, Carlos Lupi.