SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – A Justiça Eleitoral da Paraíba acolheu uma denúncia criminal contra a primeira-dama de João Pessoa, Lauremília Lucena, esposa do prefeito Cícero Lucena (sem partido) e vice-governadora da Paraíba entre 2003 e 2006.
A denúncia oferecida pelo Ministério Público Eleitoral é resultado da Operação Território Livre, iniciada em 2024 para desarticular um esquema de aliciamento violento eleitores com o apoio de facções criminosas.
Em nota, a defesa de Lauremília Lucena diz que confia no trabalho da Justiça e que provará a total inocência da primeira-dama no processo. Também disse que ela segue colaborando com as investigações e afirma ter certeza da improcedência dos fatos relacionados a ela.
“Apenas agora, com a liberação de todos os fatos, é que a defesa terá condições de começar a revelar a verdade que propiciará a absolvição plena de Lauremília. Quem a conhece sabe do seu trabalho social e que ela não tem qualquer envolvimento com as acusações, informou.
Ao todo, a Justiça acolheu denúncias contra dez acusados, que agora se tornam réus na investigação. Além de Lauremília Lucena, estão entre os denunciados a ex-vereadora Raíssa Lacerda e dois homens apontados como membros da facção criminosa Nova Okaida.
A primeira etapa da operação foi deflagrada em 10 de setembro de 2024, em meio à campanha eleitoral na qual o prefeito Cícero Lucena, na época filiado ao PP, disputava a reeleição. Ele foi eleito no segundo turno com 63,9% dos votos.
Na época, a operação resultou na prisão de seis pessoas, incluindo Lauremília Lucena, que acabaria sendo solta dias depois. Também foi presa na ocasião a então vereadora Raíssa Lacerda, na época filiada ao PSB. A reportagem não conseguiu contato com a defesa da ex-vereadora.
As investigações revelaram a existência de uma organização criminosa que inclui agentes políticos, servidores públicos e integrantes de uma facção criminosa que teriam praticado crimes de corrupção eleitoral, aliciamento violento de eleitores, constrangimento de candidatos e apropriação de recursos públicos.
A facção atuava no controle territorial dos bairros São José e Alto do Mateus, impondo restrições à livre manifestação política e ao direito de voto. Em contrapartida, líderes do grupo criminoso e seus parentes recebiam cargos na prefeitura.
As provas reunidas incluem interceptações telefônicas, mensagens eletrônicas, documentos oficiais e apreensão de dinheiro. Na avaliação dos promotores, as provas evidenciam uma “profunda infiltração da criminalidade organizada no processo democrático”.
O acolhimento da denúncia contra a primeira-dama representa um revés para o prefeito Cícero Lucena. Há cerca de uma semana, ele anunciou sua desfiliação do PP e procura um novo partido para ser candidato a governador em 2026.