SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Uma das previsões mais importantes de Stephen Hawking sobre os buracos negros foi confirmada, meio século depois de ter sido feita. A descoberta foi anunciada pela LIGO-Virgo-KAGRA Collaboration, ligada à Caltech, e representa um marco para a física moderna.

A confirmação veio com a detecção de ondas gravitacionais de um evento cósmico ocorrido em 14 de janeiro de 2025. Nesse dia, o observatório LIGO registrou a fusão de dois buracos negros a 1,3 bilhão de anos-luz da Terra. O fenômeno, chamado GW250114, trouxe a prova mais robusta já obtida da chamada teoria da área dos buracos negros, formulada por Hawking em 1971.

A teoria afirma que a área total da superfície de buracos negros nunca pode diminuir. Ou seja, mesmo quando dois buracos negros colidem e parte da energia é perdida em forma de ondas gravitacionais, a soma das áreas sempre aumenta. Isso ocorre porque massa e rotação se combinam de maneira que o resultado final não reduz a “fronteira” do buraco negro.

Na prática, os cientistas conseguiram “ouvir” esse crescimento. Segundo o estudo publicado na revista Physical Review Letters no dia 10 de setembro, os buracos negros envolvidos no evento tinham, juntos, área de cerca de 240 mil km² antes da fusão. Após o choque, o novo buraco negro resultante alcançou 400 mil km², quase o dobro.

O resultado é considerado a prova mais sólida já obtida da teoria de Hawking. O estudo tem nível de confiança de 99,999%. Um teste preliminar havia sido feito em 2021, mas com dados mais ruidosos e menos precisos.

A confirmação só foi possível graças aos avanços tecnológicos do LIGO na última década. Os detectores hoje conseguem medir alterações no espaço-tempo menores que um décimo de milésimo do tamanho de um próton. “Podemos ouvir o sinal de forma clara, e isso nos permite testar as leis fundamentais da física”, afirmou Katerina Chatziioannou, professora de Física da Caltech e integrante da equipe.

O físico Kip Thorne, que trabalhou ao lado de Hawking, lembrou que o físico britânico sempre esperou ver sua ideia comprovada. “Se Hawking estivesse vivo, teria se deliciado ao ver a área dos buracos negros fundidos aumentar”, disse o cientista, um dos fundadores do LIGO.

A importância do resultado vai além da teoria em si. A relação entre a área do buraco negro e sua entropia, também desenvolvida por Hawking e Jacob Bekenstein nos anos 1970, abriu caminho para pesquisas que tentam unificar a relatividade geral e a mecânica quântica.

Para a colaboração internacional LVK (LIGO, Virgo e KAGRA), o marco mostra como a astronomia de ondas gravitacionais amadureceu em apenas dez anos. Desde a primeira detecção, em 2015, já foram identificados cerca de 300 eventos de fusão de buracos negros. Hoje, o LIGO chega a registrar um novo evento a cada três dias.

“A década de melhorias permitiu essa medição extraordinária. Não sei o que virá nos próximos dez anos, mas os primeiros já mudaram radicalmente o que sabemos sobre o universo”, disse Katerina Chatziioannou.

A pesquisa, além de confirmar uma previsão histórica, reforça o papel dos observatórios como ferramentas para testar teorias fundamentais. Para os cientistas, o resultado é também uma homenagem a Hawking, que morreu em 2018 sem ver sua hipótese confirmada em vida.