SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ritmo de crescimento das fusões e aquisições no Brasil, que chegou a alcançar 36% no acumulado do ano em fevereiro, vem diminuindo nos últimos meses, com as discussões em torno do tarifaço dos Estados Unidos e dúvidas sobre a reforma tributária refreando decisões de investimentos.

Dados da consultoria e auditoria PwC mostram que, entre janeiro a julho, foram fechados 826 negócios no Brasil, uma alta de 13% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Leonardo Dell’Oso, sócio e líder de negócios da PwC, aponta que, apesar de o mercado estar mais aquecido do que em 2024, esse crescimento perde fôlego a cada mês.

Ele diz que o debate em torno das tarifas de 50% impostas pelos EUA ao Brasil, que foram anunciadas por Donald Trump em 9 de julho, está inibindo movimentos em alguns segmentos.

“Essa desaceleração é, em primeiro lugar, reflexo das tarifas. Percebemos que as incertezas internacionais estão refreando movimentos de fusões e aquisições. Alguns setores estão congelando decisões de investimento”, aponta ele.

Esse cenário de turbulência no mundo levou os investidores estrangeiros a realizarem somente 154 negócios no Brasil nos primeiros sete meses deste ano, o equivalente a 19% de todas as fusões e aquisições. “É o segundo pior patamar em 17 anos”, aponta Dell´Oso.

Outro fator de influência nesse crescimento menor, segundo ele, são as dúvidas em torno da regulamentação da reforma tributária. “A expectativa é de aumento da carga tributária, e isso se reflete na retração de investimentos. Muitas empresas estão aguardando para saber como as alíquotas serão aplicadas.”

Entre os setores que estão com menos operações de fusões e aquisições, estão o agronegócio, já que o setor é um dos principais afetados pelas tarifas, produtos de consumo e varejo e mídia, telecomunicações e entretenimento. “As concessões também estão paradas, assim como a indústria de saúde”, afirma.

Na avaliação de Dell´Oso, apesar da desaceleração no ritmo de crescimento, a alta de 13% no acumulado do ano até julho ainda é expressiva. “Em momentos como o atual, de turbulência, historicamente vemos o mercado mais parado que está hoje”.

Esse crescimento ainda é significativo sobre o ano passado, de acordo com o especialista, porque as empresas vêm enfrentando dificuldade de capitalização por outros meios.

Ele aponta que o custo alto do crédito e o mercado fechado para abertura de capital através de IPOs (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês) são fatores que estimulam parte das empresas a fecharem negócios.

“O mercado de crédito tem juros proibitivos, e o mercado de capitais está parado”, diz. “A alternativa das empresas para se financiarem hoje é através de fusões e aquisições.”

Ele lembra que as fusões podem resultar em maior acesso a novos mercados, otimização via novas tecnologias e redução de custos. Isso pode levar a um aumento no valor da empresa e à atração de mais investidores.

Além disso, empresas endividadas lidam com fluxos de caixa menores e veem o seu valor de mercado se reduzir, o que as torna mais atraentes para investimentos.

De acordo com ele, o valuation (valor estimado do negócio) das empresas vem se reduzindo, o que estimula esse interesse. “Isso vira oportunidade para investidores, que pensam: se eu comprar uma empresa barata, mesmo que o mercado não esteja favorável hoje, terei ganho no médio e longo prazo.”

Segundo Dell´Oso, os setores com maior número de transações são os de tecnologia e bancos e mercados de capitais, com um movimento recente de consolidação de gestoras de grandes fortunas.

A expectativa da PwC para o ano é de crescimento entre 10% a 15% no número de fusões e aquisições na comparação com 2024.

“É importante lembrar que, apesar da previsão de alta, a proximidade da eleição começa a afetar o mercado, com empresas entrando em compasso de espera para entender quem será o próximo presidente e qual será a sua política econômica”, alerta.

A alta brasileira acontece na contramão da queda mundial de fusões e aquisições. No mundo, a quantidade de fusões e aquisições se reduziu em 9% na primeira metade do ano na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo a PwC.