SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nesta edição, já imaginou um mundo sem balanços trimestrais? Donald Trump também.

Também aqui: China e EUA disputam a guarda do TikTok, Natura começa a se livrar da Avon e outros destaques do mercado nesta terça-feira (16).

**UM MUNDO SEM BALANÇOS TRIMESTRAIS**

Donald Trump publicou nesta segunda (15), em sua rede social Truth Social, um manifesto defendendo que os balanços das empresas passem a ser divulgados a cada semestre, em vez de trimestralmente.

A discussão não é nova no mundo das finanças. Há quem considere quatro relatórios por ano exagero —e quem ache que é pouco.

COMEÇANDO DO COMEÇO

Nos Estados Unidos, assim como no Brasil, as empresas que têm capital aberto nas bolsas de valores precisam demonstrar seus resultados a cada três meses.

A imposição existe há pelo menos 50 anos nos EUA.

Lá, a responsabilidade de exigir e fiscalizar é da SEC (Comissão de Valores Mobiliários). Por aqui, a tarefa cabe tanto à CVM (nossa comissão) quanto à B3, a bolsa brasileira.

O LADO BOM

Na teoria, a condição existe porque a informação aumenta o poder de escolha dos investidores: munidos dos resultados de cada empresa, podem tomar melhores decisões.

Ainda, a transparência é importante para que órgãos reguladores e outras instituições localizem fraudes e outras irregularidades com maior facilidade. Também é uma forma de desincentivar esse tipo de desvio —quem não deve não teme, certo?

O balanço é ainda um mecanismo de prestação de contas com a sociedade. As pessoas, se assim quiserem, podem ter acesso às informações de empresas que fazem parte do seu cotidiano.

Para os defensores da regra atual, todo o sistema se beneficia desse fluxo contínuo de dados. É uma forma de monitorar o progresso das companhias e avaliar a gestão em tempo quase real.

O LADO RUIM

Os críticos lembram que tempo é dinheiro: processar números, elaborar relatórios, participar de conferências e responder a investidores custa caro —e repetir o ciclo a cada três meses seria pouco eficiente.

A mudança para o ritmo semestral não é só uma questão financeira, mas também… filosófica, podemos dizer.

“A maioria das empresas pensa as operações em termos semestrais”, afirma Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. “[Na regra atual] cria-se um incentivo para que a companhia apresente objetivos e metas artificiais.”

Segundo ele, a frequência pode ainda gerar pressão desnecessária: o público olha demais para resultados de curto prazo e ignora o planejamento de longo prazo.

Em muitos países europeus, as companhias publicam balanços semestrais.

REPETECO

Esta não é a primeira vez que Trump pede à SEC que adote o modelo semestral. Durante seu primeiro mandato (2017–2021), chegou a defender a mesma ideia, destacando seu passado de empresário.

Na época, o órgão até analisou a proposta, mas concluiu que a mudança exigiria ajustes profundos no sistema de fiscalização da economia.

[+] Parando para pensar… a desregulamentação é um dos pilares do governo Trump. Lembra-se do Doge (Departamento de Eficiência Governamental), brevemente comandado por Elon Musk? No papel, o objetivo da pasta é reduzir a burocracia pública dos EUA.

**TIC TAC NA NEGOCIAÇÃO DO TIKTOK**

Desde a Idade do Bronze, as civilizações tentam nos ensinar uma lição que parece simples: não dá para agradar gregos e troianos.

O imbróglio sobre o destino do TikTok precede o mandato de Donald Trump, mas pode ser um dos principais assuntos do primeiro ano de governo do republicano. Segundo o secretário do Tesouro dos EUA, o fim da questão está próximo.

Ele afirma que Estados Unidos e China chegaram a um acordo que prevê que a rede social —de origem chinesa— tenha um proprietário americano, em nome de continuar funcionando no território comandado por Trump.

Na rede social Truth Social, Trump disse que realizou um acordo com o país asiático sobre uma “certa empresa”, que “os jovens do país queriam muito salvar”, após elogiar uma reunião comercial que, segundo ele, correu “muito bem”.

Não houve anúncio oficial, então vale lembrar que essa é a versão da Casa Branca dos acontecimentos.

MERCADO NO CALENDÁRIO

Representantes dos governos de Trump e Xi Jinping se encontraram em Madri, capital da Espanha, no domingo (14) e na segunda (15), para resolver questões comerciais.

A agenda incluiu dois temas que estão entre os mais delicados na relação bilateral: a ameaça de Trump de impor tarifas exorbitantes às importações chinesas e a exigência de Washington para que o TikTok seja vendido a um proprietário não chinês.

A reunião dos dois governos vai até quarta-feira (17).

RECAPITULANDO

Desde o mandato do democrata Joe Biden, que terminou em janeiro deste ano, a Casa Branca acusa o TikTok —rede social criada na China e popular no mundo todo— de ser um mecanismo para que o governo de Jinping acesse dados sensíveis dos americanos.

A única forma de remediar a invasão, na opinião dos EUA, seria garantir que a rede não pertença mais à China —melhor ainda se for vendida para um americano.

Se a operação não acontecer, a plataforma fica sob ameaça de banimento no território comandado por Trump, onde alcança cerca de 170 milhões de usuários —sem falar nos lucros das vendas que faz no TikTok Shop.

**VALE 1 DÓLAR**

Dá para dizer que a Natura meteu os pés pelas mãos na última década? Na busca por ser a maior empresa global de beleza, a companhia se expandiu rapidamente e parece estar se contraindo na mesma velocidade.

A holding brasileira anunciou ontem um acordo vinculante para a venda das operações da Avon em países da América Central por um valor nominal de US$ 1 (R$ 5,32) para o Grupo PDC.

O possível comprador tem presença na região de interesse da transação e no Peru.

COMO ASSIM?

Pera lá, o valor é só para segurar o negócio. Se a outra parte do acordo decidir selar o negócio, fará um pagamento de US$ 22 milhões (R$ 117 milhões), segundo fato relevante divulgado para o mercado.

A venda inclui as operações da Avon na Guatemala, Nicarágua, Honduras, El Salvador e República Dominicana, reunidas sob a designação “Avon Card”.

EMPRESA VENDE TUDO

A Natura prevê o desinvestimento dos negócios reunidos na Avon Internacional. Ela disse que o ativo segue à venda e que continua “explorando alternativas estratégicas” para ele.

A companhia afirmou que a venda da Avon Card “apoiará o esforço da Natura para otimizar suas operações e simplificar seus negócios, além de posicioná-la para continuar focada na integração da Natura e da Avon na América Latina”.

O fechamento da venda é previsto para até 30 de outubro.

RECAPITULANDO

Há alguns anos, a Natura comprou marcas globais como a The Body Shop, a Aesop e, a operação mais relevante, a fusão com a Avon. Com tudo isso embaixo do braço, virou Natura & Co., um dos maiores conglomerados de beleza do mundo.

A questão é que ficou muito difícil administrar tanta coisa, dando pouco tempo para a adaptação. Agora, ela está se desfazendo de algumas operações para focar no desempenho na América Latina.

A dívida líquida reportada pela empresa no segundo trimestre de 2025 foi de R$ 4 bilhões. A ideia é diminuí-la com as vendas.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

Dobrando a aposta. A 99 dobrou os investimentos no delivery de comida no Brasil para R$ 2 bilhões. A decisão vem depois da estreia do serviço em São Paulo.

A febre passou? As ações da Pop Mart, rede de lojas chinesa que vende o Labubu, recuam 9% com sinais de queda na procura pelo boneco.

Atos e consequências. A deportação dos trabalhadores sul-coreanos da fábrica da Hyundai prejudica os planos de crescimento da montadora nos Estados Unidos.

Fora das quatro linhas. Após investigação preliminar, a China afirma que a Nvidia violou a lei antimonopólio do país.

Toca o sino. A Alphabet entrou no panteão de empresas que atingiram US$ 3 trilhões em valor de mercado.

Destranca rua. O Master e o BRB procuraram o ex-presidente Michel Temer em uma tentativa de destravar a venda do primeiro após recusa do Banco Central.