SÃO PAULO, SP E SANTOS, SP (FOLHAPRESS) – Ruy Ferraz Fontes, 63, ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo e considerado um dos maiores especialistas no PCC, foi assassinado na noite desta segunda-feira (15) em Praia Grande, na Baixada Santista.
Conforme a Polícia Militar, o ataque ocorreu na avenida Doutor Roberto de Almeida Vinhas, na Vila Caiçara, por volta das 18h20. Uma testemunha contou ter ouvido diversos disparos de arma de fogo e acionado policiais. O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) constatou a morte de Fontes no local.
O governo Tarcísio de Freitas (Republicamos) determinou a integração de uma força-tarefa para prender os responsáveis pela morte. Equipes da Rota (espécie de tropa de elite da PM) foram deslocadas para o litoral.
Segundo prévia do boletim de ocorrência, homens efetuaram tiros de fuzil contra a vítima, que estava em seu carro.
Um vídeo mostra a ação. Nas imagens, Fontes aparece acelerando um Fiat Argo. Ele bate num ônibus, capotando o automóvel. Nesse momento, os suspeitos desembarcam de outro veículo e efetuam disparos contra o ex-delegado.
O carro utilizado no crime foi encontrado queimado pela polícia. Segundo a Prefeitura de Praia Grande, dois homens ficaram feridos durante o ataque ao delegado. Eles estavam na rua e foram atingido por tiros. Os dois foram socorridos no local, encaminhados a uma unidade de pronto atendimento, e depois a um hospital. Nenhum dos dois feridos corre risco de vida, segundo a prefeitura.
Ruy Ferraz Fontes começou a carreira em 1988 e, ao longo de quatro décadas, trabalhou em diversos setores da Polícia Civil. Também teve carreira acadêmica. Durante 11 anos, ele foi professor assistente de Criminologia e Direito Processual Penal de uma universidade e professor de Investigação Policial pela Academia da Polícia Civil do Estado de São Paulo.
Ocupou o maior posto da Polícia Civil do estado, como delegado-geral, de janeiro de 2019 a abril de 2022, na gestão do governador João Doria. Nessa função, respondia diretamente ao governador e ao secretário da Segurança Pública.
Ele trabalhava ultimamente como secretário de Administração da Prefeitura de Praia Grande, que lamentou a morte em nota. Também atuou como diretor do Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital).
Era considerado um dos principais especialistas do país sobre a estrutura da facção PCC (Primeiro Comando da Capital), sendo o primeiro delegado a investigar a atuação da organização no estado, enquanto chefiava a Delegacia de Roubo a Bancos do Deic.
No Deic, a equipe de Fontes indiciou por formação de quadrilha todos os líderes da facção no início dos anos 2000, ocasião em que divulgou os primeiros organogramas indicando Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola; César Augusto Roriz da Silva, o Cesinha (1968-2006); e José Márcio Felício, o Geleião (1961-2021), como os cabeças da facção.
Os criminosos foram transferidos para o regime disciplinar diferenciado) no CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) do presídio de Presidente Bernardes, inaugurado em abril de 2002 para abrigar integrantes de facções criminosas.
Por sua atuação, em 2007 ele recebeu da Câmara Municipal de São Paulo a medalha Tiradentes, honraria concedida a policiais civis, militares e guardas-civis metropolitanos que se destacam.
Policiais ouvidos pela reportagem afirmam acreditar no envolvimento da facção criminosa no homicídio desta segunda. Para Osvaldo Gonçalves, o Nico, secretário-executivo da SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, a teoria de que teria sido morto por integrantes da facção criminosa é precipitada e as investigações devem ser aprofundadas antes de qualquer suspeita.
Nico, que conhecia Fontes desde a década de 1970, diz estar muito triste com a morte do amigo. “É um momento muito difícil. Era uma pessoa fantástica.”
O Governo de São Paulo emitiu nota lamentou o atentado contra o ex-delegado.
“Policiais militares atenderam rapidamente à ocorrência e localizaram o veículo utilizado pelos criminosos. A cena foi preservada para a realização da perícia, e o caso está sendo registrado na Polícia Civil. Equipes estão em campo, realizando diligências e utilizando ferramentas de inteligência para identificar, prender e responsabilizar os envolvidos”, afirma a gestão Tarcísio.
Dados do último Anuário da Segurança Pública, divulgados em julho passado, mostram que um total de 46 policiais foram mortos em serviço e outros 124 morreram de forma violenta quando estavam de folga. Isso significou uma queda de 4,5% na vitimização de policiais.