SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – No interior da Austrália, o papagaio-noturno (Pezoporus occidentalis), uma pequena ave verde e amarela, parecia ter desaparecido para sempre.

Entre o final do século 19 e 2013, registros confiáveis da espécie eram praticamente inexistentes. Apenas alguns indivíduos mortos foram encontrados esporadicamente em Queensland, alimentando a suspeita de extinção.

Mas, em 2013, o naturalista John Young localizou uma pequena população no sudoeste de Queensland, abrindo caminho para que o mundo conhecesse novamente este pássaro quase lendário.

DESCOBERTA NO GRANDE DESERTO ARENOSO

Entre 2018 e 2023, uma equipe formada por guardas florestais indígenas e cientistas australianos realizou uma investigação detalhada no território de Ngururrpa, na Austrália Ocidental.

Combinando conhecimento local, imagens de satélite, mapas geológicos e dados históricos de incêndios, eles instalaram gravadores de som para detectar os chamados únicos dos papagaios-noturnos, que lembram assobios, coaxos e sinos.

Os resultados foram surpreendentes: dos 31 locais monitorados, 17 registraram a presença da ave, e dez desses locais eram poleiros de descanso noturno. Estima-se que entre 40 e 50 papagaios-noturnos vivam atualmente nesta região —a maior população conhecida da espécie no mundo.

DESAFIOS, AMEAÇAS E METAS PARA O FUTURO

O papagaio-noturno depende de abrigos específicos: densas touceiras de bull spinifex (Triodia longiceps), que levam anos para se formar e fornecem sombra e proteção contra predadores. O estudo revelou que cães selvagens dingos são predadores frequentes do habitat, mas podem ajudar a controlar os gatos selvagens, que também são uma ameaça significativa.

Outro risco importante são os incêndios naturais provocados por raios, que podem destruir rapidamente esses abrigos delicados. Por isso, queimas controladas e estratégicas já estão sendo aplicadas para proteger os locais-chave da espécie.

Agora, o programa de monitoramento no território de Ngururrpa busca garantir a sobrevivência do papagaio-noturno, combinando tecnologia moderna com conhecimento indígena tradicional. Guardas florestais querem em criar um centro de pesquisa local, com câmeras, gravadores de som e kits de coleta de DNA, para entender melhor os hábitos da ave e proteger seu habitat.