SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O médico brasileiro Ricardo Barbosa, que teve o visto dos Estados Unidos revogado após parabenizar o assassino do influenciador conservador Charlie Kirk nas redes sociais, afirma que fez uma “colocação infeliz” e que “pede desculpas à família”.
Em comentário no Instagram, o neurocirurgião escreveu: “Um salve a este companheiro de mira impecável. Coluna cervical”. A mensagem foi divulgada por perfis da direita brasileira, que alertaram autoridades americanas, e viralizou nas redes sociais.
“O comentário em questão não reflete minha opinião. Sempre fui contrário ao uso de armas e defensor da paz. Trata-se de uma colocação infeliz, fora de contexto e divulgada por pessoas alheias ao meu círculo”, afirma Barbosa em mensagem enviada à Folha.
“Peço desculpas à família enlutada e registro que montagens e sobreposições de imagens distorceram o conteúdo original, em nada condizendo com os princípios que sempre nortearam minha conduta pessoal e profissional: o respeito à vida e à ética.”
Após a repercussão, o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) anunciou que abriu um processo disciplinar. A Unimed, à qual ele é filiado, afirmou que também iria analisar o episódio.
O neurocirurgião também disse que “tomará medidas cabíveis” contra ataques que vem recebendo nas redes sociais. Uma conta no Instagram, que usa uma fotografia e o nome de Barbosa, reúne uma série de posts contra ele.
“Perfil para você de direita que gosta de ver esquerdistinha de iPhone se lascando”, diz a descrição do perfil, que já tem mais de 2.400 seguidores.
A conta também reproduz um vídeo do jornalista e historiador Eduardo Bueno, em que ele ironiza a morte do influenciador trumpista Charlie Kirk. “Enquanto lixos iguais a esse continuarem soltos, o mundo continuará de ponta cabeça”, diz o post. Após os comentários, a PUC-RS cancelou um evento que aconteceria neste domingo (14) com a presença de Bueno.
O perfil, por outro lado, ataca personalidades da esquerda sem relação com o caso Kirk, como o ator Wagner Moura e o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP).
O vice-secretário de Estado, Christopher Landau, tem prometido revogar uma série de vistos desde a morte de Kirk. Alguns republicanos, como a influente ativista trumpista Laura Loomer, pedem que a Casa Branca deporte imigrantes que criticarem o influenciador ou processe americanos que fizerem o mesmo.
“Se prepare para ter todo o seu futuro profissional destruído se você for doente o bastante para celebrar a morte de Charlie”, disse Loomer no X.
Kirk era apresentador de podcast e aliado próximo do presidente Donald Trump, com quem ajudou a consolidar o apoio do Partido Republicano entre jovens eleitores. Trump classificou o crime de “assassinato hediondo” e responsabilizou a “esquerda radical” pelo episódio, que chamou de “consequência trágica de demonizar aqueles de quem se discorda”.
O episódio também provocou manifestação de repúdio de políticos democratas.
Um site recém-registrado chamado “Expose Charlie’s Murderers” (Exponha os assassinos de Charlie) reúne nomes de 41 pessoas, a maioria sem perfil público, que supostamente “apoiam a violência política online” com o objetivo de fazer com que quem celebrou ou relativizou a morte de Kirk sofra consequências profissionais.
As publicações reunidas no site incluem pessoas comemorando o assassinato, mas também publicações críticas ao influenciador trumpista e a suas falas, consideradas por críticos como racistas e machistas.