CURITIBA, PR (FOLHAPRESS)- A professora e advogada Melina Girardi Fachin, que é filha do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin, foi hostilizada na sexta-feira (12) quando saía do prédio da UFPR (Universidade Federal do Paraná) na praça Santos Andrade, centro de Curitiba.
Segundo o advogado Marcos Rocha Gonçalves, marido de Melina, ela andava na praça após sair da faculdade de direito no final da manhã quando um homem branco, sem se identificar, se aproximou e “desferiu uma cusparada na professora, chamando-a de lixo comunista”. O relato foi feito por ele em uma rede social.
“Essa violência é fruto da irresponsabilidade e da vilania de todos aqueles que se alinharam com o discurso do ódio propalado desde o esgoto do radicalismo de extrema direita, que pretende eliminar tudo que lhe é distinto”, escreveu ele, ao dizer que não se trata de um caso isolado de violência física, política e contra uma mulher.
Um dia antes da agressão a Melina, o STF condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, sob acusação de liderar uma trama para permanecer no poder. Ele também foi considerado culpado por outros quatro crimes.
A sentença foi dada pela Primeira Turma da corte, que não é integrada por Fachin. Nomeado ao STF em 2015 pela então presidente Dilma Rousseff (PT), Fachin fez carreira no Paraná e, na UFPR, foi professor de direito civil. Ele assumirá a presidência do Supremo no final deste mês.
Melina é diretora do Setor de Ciências Jurídicas da UFPR e professora do Departamento de Direito Público da instituição. Outra filha do ministro do STF, a médica especializada em cirurgia pediátrica e professora Camila Fachin, é a atual vice-reitora da universidade.
Em nota, a UFPR afirma que “analisa a situação ocorrida com a professora”. Também disse que o caso será debatido em reunião do Conselho de Planejamento e Administração da universidade nesta terça-feira (16).
Uma nota de desagravo foi feita por professores de direito da UFPR, em solidariedade a Melina. “Divergências políticas e ideológicas são legítimas, mas nunca podem justificar agressões ou intimidações”, diz trecho.
Melina ainda não se manifestou publicamente. No relato do marido, ele fala em “agressão covarde” cometida por um “porco imundo” e atrela o caso a um episódio de 9 de setembro envolvendo a faculdade de direito.
Na noite daquele dia, uma manifestação de estudantes contra uma palestra no Salão Nobre da Faculdade de Direito terminou com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha disparadas pela Polícia Militar do Paraná.
O evento teria a participação do vereador Guilherme Kilter (Novo) e de Jeffrey Chiquini, advogado de Filipe Martins, assessor para assuntos internacionais da Presidência da República no governo Jair Bolsonaro (PL) e réu no STF no caso da trama golpista. Em publicação nas redes sociais, ambos afirmaram ter sido agredidos e insultados ao chegar à universidade.
De acordo com os organizadores, o objetivo era debater “os abusos do Supremo”, mas o evento acabou cancelado pela universidade, que alertou para a possibilidade de confusão.
A UFPR afirma que os palestrantes não aceitaram o cancelamento e tentaram forçar sua entrada no local “empurrando o vice-diretor do setor, o que desencadeou uma série de reações que culminaram em uma resposta desproporcional das forças de segurança pública em relação à comunidade que se manifestava”.
Na rede social, Gonçalves afirmou que o ato de violência contra Melina “carrega as assinaturas de todos aqueles que na última terça-feira [09/09] protagonizaram mais um episódio de provocação, de tumulto e desrespeito às instituições, como é a prática desses indignos sujeitos”.
Gonçalves escreve ainda que “não haverá clemência aos bolsonaristas, aos intolerantes e principalmente aos covardes”. “Vocês nunca mediram as consequências de suas palavras e de seus atos. Nós também não mais mediremos”, continuou.
As comissões de Defesa dos Direitos Humanos e das Mulheres Advogadas da OAB do Paraná repudiaram a agressão e, em nota, disseram que Melina tem “histórico irretocável de defesa da democracia, dos direitos humanos e da igualdade de gênero”.
“A presença feminina em um cargo de poder e o envolvimento com a proteção de pautas caras a grupos socialmente vulneráveis são aspectos determinantes para a ocorrência de violências desta natureza, o que multiplica a necessidade de atenção das instituições”, diz trecho.