BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A segunda noite da mostra competitiva do 58º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, neste domingo (14), foi marcada pela temática dos conflitos de terra.
Primeiro, foi exibido o curta-metragem paranaense de ficção “Dança dos Vagalumes”, de Maikon Nery, que traz a história de uma jovem que retorna a um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, onde passou a infância.
No longa documental “Xingu à Margem”, o cineasta baiano Wallace Nogueira divide a direção com a diretora indígena Arlete Juruna. O filme acompanha Dona Raimunda, que dá rosto aos ribeirinhos escanteados pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, próxima ao município de Altamira, no Pará.
Antes da exibição no Cine Brasília, na capital federal, os realizadores do curta “Dança dos Vagalumes” ergueram uma bandeira do MST no palco e exaltaram a doação de alimentos pelo movimento durante a pandemia, criticando a atuação do governo Jair Bolsonaro no período. O filme, porém, não opta pelo confronto político direto e prefere um olhar mais poético sobre como os conflitos de terra se relacionam com a protagonista.
Já o longa que fechou a noite, “Xingu à Margem”, tem o confronto político em sua essência. Ele trata não só dos conflitos entre os representante da hidrelétrica de Belo Monte com moradores deslocados, mas também de conflitos entre os locais, entre ribeirinhos e indígenas.
Nogueira chama “Xingu à Margem” de um filme “de guerrilha, de trincheira”. Ele conta que inicialmente chegou à região e fez um curta-metragem que tratava dos indígenas.
Após o curta-metragem, ele continuou indo para o local, para ministrar aulas de audiovisual para a população local -a codiretora, Arlete Juruna, foi aluna de Nogueira.
“Eu ia vendo as coisas acontecendo, presenciando famílias inteiras brigando entre si, tudo muito delicado”, diz o diretor.
Ele então entendeu que retratar somente a questão indígena não bastava para para aquela região, diz. “A gente acabou entendendo que precisávamos falar também dos altamirenses, que precisávamos falar também dos ribeirinhos”, afirma o diretor.
São poucas as cenas de Belo Monte no filme, que prefere ser guiado por Raimunda. “Eu preferi fazer imagens das árvores mortas do que mostrar uma obra faraônica”, diz o diretor.
Ele justifica afirmando que Dona Raimunda é “uma figura combativa, política e politizada, e a pessoa que, até onde eu entendi, mais enfrentou aquilo tudo”.
Mais cedo, antes da exibição de uma cópia remasterizada de “São Paulo Sociedade Anônima”, de Luiz Sergio Person, foi entregue o Prêmio Leila Diniz, dado a mulheres que marcaram a história do cinema brasileiro, a Lúcia Murat, diretora de filmes como “Brava Gente Brasileira”, de 2000, e “Que bom Te Ver Viva”, de 1989.
O 58º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, um dos mais tradicionais do país, começou na sexta (12), numa sessão que teve altor teor político, com gritos de “sem anistia” e a exibição de “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, no Cine Brasília, prédio de Oscar Niemeyer na capital federal.
O festival vai até 20 de setembro, com exibição de 80 filmes. O evento comemora 60 anos e, para celebrar, serão exibidos longas históricos que representam a trajetória do evento. Entre eles estão “São Paulo Sociedade Anônima”, de Luiz Sergio Person, e “A Falecida”, longa de Leon Hirszman com Fernanda Montenegro -ambos participaram da primeira edição, em 1965.
O encerramento ocorre com a produção brasiliense “A Natureza das Coisas Invisíveis”, de Rafaela Camelo. O longa foi exibido no Festival de Berlim e conquistou o prêmio de melhor filme do júri infantil no Festival de Cinema do Uruguai.