SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na pintura “O Tribunal da Morte”, o artista George Frederic Watts retratou um grupo de pessoas à beira da morte. Elas se organizam em torno de um anjo sentado em um trono, que segura um bebê recém-nascido.

Feita entre o final do século 19 e os primeiros anos do 20, a tela de mais de quatro metros de altura é uma mensagem de que, diante do final do vida, todos, ricos ou pobres, são iguais, informa o site da Watts Gallery, museu no Reino Unido dedicado à obra do pintor.

Densa e solene, a atmosfera da pintura é uma tradução visual do clima das canções de “Ascension”, o novo álbum dos mestres do metal gótico Paradise Lost, que será lançado em 19 de setembro pelo selo Nuclear Blast, um dos mais importantes da música pesada. Não por acaso, na capa do disco há uma reprodução da obra de arte de Watts.

“A figura central [da pintura] para mim parece realmente serena, como se tivesse atingido a iluminação, ou ascensão. Culturalmente isso é utilizado em todo o mundo —a iluminação, o nirvana. Os personagens ao redor da figura central parecem envoltos em tristeza ou em algum tipo de turbulência. Isso realmente se encaixou muito bem no nosso conceito”, diz Gregor Mackintosh, guitarrista do Paradise Lost, numa entrevista por vídeo, acrescentando que tem uma reprodução do quadro, um de seus preferidos, em casa.

“Ascension” é o 17º disco da banda britânica louvada pela capacidade de transmitir tristeza em suas músicas, usando para isso guitarras que choram em faixas de andamento mais lento. Para Mackintosh, o novo álbum é menos imediato em relação ao anterior, “Obsidian”, de 2020, por não ter grandes hits de rock —mas ao mesmo tempo ele cresce com as audições.

O novo disco é formado por dez faixas criadas após o músico deletar as primeiras versões de metade delas e começar tudo de novo. Depois de um período sem inspiração para a sonoridade, o direcionamento veio na época em que a banda fez os shows comemorativos dos 30 anos do álbum “Icons”, de 1993, regravado e relançado pelo grupo, que não tinha os direitos da obra.

“Ascension”, contudo, não é uma volta ao passado, dado que foi um álbum produzido hoje, mas ele é espiritualmente ligado aos primeiros anos da banda, de acordo com Mackintosh.

O guitarrista conta que, no início dos anos 1990, a banda se preocupava se uma harmonia, melodia vocal ou riff de guitarra remetia suficientemente ao universo religioso. Com o novo disco, eles queriam retomar essa mentalidade e também refletir sobre o próprio nome do grupo, Paradise Lost, ou paraíso perdido, título de um longo poema de John Milton que reconta a história bíblica de Adão e Eva.

Não que o Paradise Lost seja uma banda gospel, longe disso, mas o universo de penitência e lamúria associado à religião tem apelo para o grupo. No novo disco, era importante emprestar às músicas um clima de “outono e inverno”, segundo o guitarrista, e isso fica claro em um dos singles, “Serpent on the Cross”.

Em suas dez faixas, “Ascension” traz o peso característico da banda embalado em sonoridade cristalina. Estão ali o universo envolvente e sufocante —no bom sentido— de vocais guturais sobre guitarras melosas. Quem conhece grupos como Tiamat e My Dying Bride sabe o que esperar.

Mackintosh diz não pensar no público quando compõe, porque a razão de ter fãs é justamente o fato de que “eles querem ouvir a sua interpretação de alguma coisa”, afirma, e se o artista começa a se preocupar com a visão de outra pessoa, o processo criativo fica comprometido e a ideia é que ele seja o mais puro possível.

Para o guitarrista, o foco é criar um universo para o ouvinte. “A nossa forma de música, ou a minha interpretação pessoal dela, é o escapismo. Ela me leva para algum lugar. Você pode estar acamado, estar qualquer coisa, mas ouve certos tipos de música e elas te transportam para outro lugar. É isso que eu quero que a nossa música faça.”

ASCENSION

– Quando A partir de 19 de setembro nas plataformas digitais

– Autoria Paradise Lost

– Gravadora Nuclear Blast Records