SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Semana começa em clima de tensão para o banco central dos Estados Unidos, yuan ganha espaço no coração dos investidores e outros destaques do mercado nesta segunda-feira (15).
**SOB PRESSÃO**
A trilha sonora da semana no Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, poderia ser a canção Under Pressure, da banda Queen e do cantor David Bowie.
Dizer que o órgão está sob pressão é o mínimo: o momento é um dos mais tensos da história recente no comitê que decide a direção da política monetária americana. Na próxima quarta-feira (17) , ele define a taxa básica de juros dos EUA.
De um lado o presidente do Fed, Jerome Powell, assumiu um posicionamento (pouco) mais maleável em relação a baixar o patamar dos juros, que estão hoje no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano.
Leituras recentes de indicadores econômicos americanos, como o desaquecimento do mercado de trabalho e a desaceleração da inflação, dão confiança àqueles que acreditam na queda da taxa referencial. Até aqui, tudo normal não?
Do outro lado o presidente dos EUA, Donald Trump, quer muito mais do que isso. O republicano quer ver a taxa de juros cair ao menos três pontos percentuais, para 2,5% ao ano. Juros mais baixos estimulam o comércio, o que faz parte dos planos do líder para a economia.
Os meios pelos quais ele quer alcançar o objetivo são pouco ortodoxos, no entanto. O Federal Reserve é uma entidade independente do governo, ou seja, o máximo que o presidente pode fazer é manifestar sua vontade e torcer para que os diretores do banco o ouçam.
Trump está pressionando a autarquia publicamente desde o início do mandato. Na verdade, desde antes de vencer as eleições em 2024. Em agosto, escalonou a tensão entre Casa Branca e Fed ao pedir a demissão de Lisa Cook, uma das diretoras do órgão.
Ele a acusa de ter falsificado uma hipoteca. Enquanto isso, a oposição aponta que Cook é um dos membros do comitê de política monetária a votar de forma contrária à queda dos juros. O movimento é visto como uma intervenção sem precedentes na economia.
MARQUE NA AGENDA
Aqui no Brasil, a taxa básica de juros, Selic, será decidida no mesmo dia. A expectativa do mercado é que ela seja mantida em 15% ao ano, mas com um tom mais brando sobre a manutenção em um patamar elevado.
O futuro depende, entre outras coisas, do que vai acontecer nos EUA.
**BYE BYE, DÓLAR**
Você aí, leitor entusiasta do mercado financeiro. Consegue imaginar um mundo onde o dólar não seja o primeiro pensamento matinal de um investidor?
Dá para dizer que o cenário econômico americano está um pouco caótico, não? As tarifas estabelecidas por Trump geram tensão com diferentes países, a dívida pública da nação não para de crescer e os ataques à independência do Federal Reserve contribuem para uma imagem fragilizada do capital americano.
Pelo menos, é isso o que as lideranças chinesas pensam: elas enxergam o momento como uma abertura para uma possível crise do dólar enquanto moeda de referência e uma oportunidade para crescer nesse cenário.
PENSANDO COM A CABEÇA DELES
A moeda americana caiu 7% em termos ponderados pelo comércio desde janeiro e teve seu pior início de ano desde 1973.
Em contraste, o yuan, a moeda controlada pela China, atingiu seu nível mais alto desde a reeleição de Trump, em novembro do ano passado.
O QUE MUDA?
A ideia é que um yuan aceito globalmente pode proteger seus exportadores das oscilações do dólar e reduzir a ameaça de sanções financeiras americanas.
Caso você tenha se esquecido, China e EUA estão em trégua tarifária. Em maio, as taxas chegaram a 145% sobre exportações chinesas para os americanos e 125% sobre o fluxo contrário.
Sim, mas o yuan ainda carece de prestígio. Apesar de a China responder por quase 20% da atividade econômica global, sua moeda é usada em apenas 4% dos pagamentos internacionais por valor (em comparação com 50% para o dólar).
Os ativos em yuan representam apenas 2% das reservas internacionais dos bancos centrais (contra 58% dos ativos em dólar).
Há especialistas que atrelam a dificuldade da divisa de penetrar o sistema financeiro internacional com alguns controles do fluxo de capital impostos pelo governo chinês.
Esse mesmo governo, no entanto, está preparando o terreno para que países em crise interna ou com os EUA tenham acesso fácil ao investimento em yuan. É uma forma de comer pelas beiradas da economia global.
**REINVENTANDO A RODA**
O café da Starbucks é um dos mais populares nos Estados Unidos. Lá, a rede fazia o básico que dava certo: café, wi-fi e um ambiente mais ou menos confortável para sentar. Depois de muitos anos, a receita parou de agradar e é hora da mudança.
SOB NOVA DIREÇÃO
Há um ano, Brian Niccol assumiu o cargo de CEO da Starbucks, o primeiro passo de qualquer empresa que quer mudar os rumos dos negócios.
Para tirá-lo do comando da rede de fast food Chipotle, a companhia ofereceu um pacote de pagamento de US$ 100 milhões (R$ 535 milhões).
ARRUMANDO A CASA
O novo chefe bam-bam-bam do setor começou mudando as lojas da rede. Tirou as taxas extras para aqueles que pediam leites vegetais ou sem lactose nas bebidas, devolveu os carrinhos de condimentos e contratou executivos para coordenar a ponta final do negócio.
O objetivo, segundo ele, é oferecer aos clientes nas 17 mil lojas ao redor dos Estados Unidos bebidas únicas, com preço premium, em um ambiente aconchegante tudo isso em na velocidade fast food.
NEM TUDO SÃO FLORES
A reforma nos cardápios tirou alguns drinks queridinhos do público, o que causou rebuliço nas redes sociais. A adição de novos produtos, com receitas bem mais rebuscadas que os anteriores, causaram confusão nos atendentes.
O principal problema é que a empresa precisa reconquistar os clientes.
No segundo trimestre deste ano, a Starbucks registrou a sexta queda consecutiva nas vendas em lojas abertas há pelo menos um ano.
No último ano, as ações da companhia caíram 8,8% mesmo que o índice que reúne papéis de bares e restaurantes na bolsa americana tenha subido 6,5%.
E NÓS COM ISSO?
O Brasil tem a ver com os desafios importantes no caminho de Niccol, o novo CEO. Oferecer produtos rebuscados pode ficar caro demais: o preço do café disparou nos Estados Unidos com a sobretaxa de 50% imposta sobre produtos brasileiros.
A inflação do café subiu 3,6% em agosto, acumulando 21% em 12 meses.
A taxa impulsionada pela escassez de oferta é a maior desde 1997.
**A IA ESTÁ ROUBANDO MEU EMPREGO?**
Ainda não. Pelo menos é o que diz um estudo do Federal Reserve de Nova York. Segundo a pesquisa, até o momento, o impacto da inteligência artificial nas demissões é modesto a maioria das empresas não relatou desligamentos por esse motivo.
A tendência é que os cortes aumentem daqui para a frente, mas a expectativa também é de mais contratações de trabalhadores familiarizados com a ferramenta. Ou seja, é possível que o mercado chegue a um certo equilíbrio nessa questão.
COMO ASSIM?
Os pesquisadores entrevistaram companhias na região de Nova York e no norte de Nova Jersey e chegaram à conclusão de que 40% das empresas de serviços já usam IA.
Os efeitos dessa utilização sobre o trabalho são variados e podem ser tanto positivos como negativos, dependendo do segmento de atuação de cada empresa.
Para quem já está empregado, a tendência encontrada é que essas pessoas sejam treinadas para usar ferramentas de IA com mais facilidade.
Algumas empresas estão reduzindo as contratações ou preferindo recrutar profissionais que tenham familiaridade com a inteligência artificial.
E AGORA?
A pesquisa considerou que as empresas possuem quatro alternativas em resposta à IA:
– Demitir trabalhadores e substituí-los pela ferramenta;
– Reduzir as contratações planejadas;
– Contratar novos funcionários que saibam usar a IA;
– Treinar sua força de trabalho para uso da tecnologia.
Entre as empresas de serviços, apenas 1% afirmou ter demitido trabalhadores nos últimos seis meses por causa da IA, uma redução em relação aos 10% que afirmaram optar por demissões no ano passado.
Apesar disso, 13% das companhias do setor responderam que farão demissões nos próximos seis meses devido ao uso de IA.
Vale ressaltar que, na edição do ano passado do estudo, uma quantidade parecida de companhias disse que desligaria funcionários com esse propósito, mas quase nenhuma o fez.
No caso do setor manufatureiro, nenhum relatou demissões nem espera cortes pelos próximos seis meses.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
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