SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os economistas Rob Arnott e Edward F. McQuarrie riem com gosto quando perguntados sobre a reação ao seu último trabalho publicado. Foi a pior possível.

“Foi como se nos dissessem: como vocês ousam fazer uma coisa dessas?”, se diverte Arnott, fundador do Research Affiliates, empresa de consultoria financeira.

O sucesso de público (dentro dos padrões de uma pesquisa econômica) compensou, para eles, a revolta dos críticos. São cerca de 4.000 downloads.

A tese dos dois pesquisadores é uma proposta para mudar o paradigma para avaliar valores de ativos e de investimentos. O mais importante não seria a teoria de quanto maior o risco, maior a recompensa. O fator determinante, segundo eles, é o medo.

Arnott e McQuarrie, professor emérito da Universidade de Santa Clara, nos Estados Unidos, são autores do estudo “Fear, not risk, explains asset pricing” (Medo, não risco, explica precificação de bens).

“O risco simplesmente não é uma ferramenta eficiente para fazer o que se propõe. Mas é cômodo [para ser utilizado por consultores e economistas] porque é mensurável. Medo é outra coisa. É bem mais difícil”, afirma McQuarrie.

A teoria do risco é a forma mais popular de precificação de ativos pela percepção de que as pessoas exigem compensação financeira para abrir mão da segurança de um investimento considerado mais conservador.

A partir da década de 1950, pesquisadores como Harry Markowitz e William Sharpe desenvolveram o embasamento da teoria de risco, o CAPM (Capital Asset Pricing Model). Ele mostrava como risco e retorno se relacionavam. A tese passou a ser ensinada nas principais escolas de economia e se tornou dominante.

Por questionarem este método, Arnott e McQuarrie afirmam terem encontrado silêncio na comunidade acadêmica após a publicação do trabalho.

“Isso não nos surpreendeu em nada”, diz Arnott.

“CAPM é uma medida incompleta para medir risco e retorno. Representa fé, não é ciência. Como pode uma teoria que tem sido de forma tão repetida contrariada por dados empíricos ser vista ainda como a melhor representação científica do comportamento humano?”, questiona McQuarrie.

A teoria dos dois pesquisadores é que o foco para medir o valor do ativo é o investidor, não o investimento. O seu comportamento, os seus sentimentos são mais determinantes no preço de um bem do que o cálculo do risco.

Dentro disso, dois receios se sobressaem e são centrais na tese de Arnott e McQuarrie: o medo de perder (FOL, fear of loss, em inglês) e o medo de ficar de fora (FOMO, fear of missing out, em inglês). São as duas sensações que guiariam de verdade as ações de investidores.

“Medo é a resposta com o poder de motivar e guiar a ação humana. É o fator central”, diz Arnott.

“A teoria do risco delineia o investimento racional sob a luz da matemática, mas ignora as confusões das emoções humanas e falha para entender a história. Quando você percebe isso, o medo surge como conceito poderoso”, afirma o estudo.

O texto tem a ideia de colocar fatores humanos além da questão matemática, de algo mensurável, como faz a teoria do risco. O valor do ativo seria determinado, na verdade, pelo equilíbrio entre o medo de perder dinheiro e o medo de ficar de fora de um investimento que pode oferecer um retorno superior.

Eles defendem ser uma bobagem querer colocar uma pecha de racionalidade no mercado financeiro.

“O mercado é irracional. Vernon Smith ganhou o Nobel de Economia [em 2022], em parte, por demonstrar que escolhas irracionais podem criar bolhas e desastres, mesmoem mercado em que todos os participantes sabem que o preço está maior ou menor que o valor real”, afirma o documento dos economistas.

Isso seria explicado não pelo risco, dizem, mas pelo medo de ficar de fora.

“Um homem de economia puramente racional não existe (…) O medo entra no pensamento porque a teoria do risco faz um trabalho medíocre explicando dados de avaliação de preços”, completa o texto.

Os pesquisadores consideram que o estudo é um chamado para que outros economistas e estudiosos se debrucem sobre o tema para tentar chegar a um modelo matemático.

“Quem sabe até ganhar o Nobel de Economia com isso”, pensa Arnott.

É um pedido para despertar a curiosidade, outro sentimento humano, e ir além da matemática. Porque, lembram, medo é autoconhecimento.

“Nós nos conhecemos melhor do que qualquer pessoa”, define McQuarrie, lembrando que isso é decisivo na definição de valor de um bem ou investimento.

É também uma mudança de paradigma. Risco remete à coragem. O medo tem o estigma da fraqueza. Não é uma imagem que o mercado financeiro deseja passar.

“Mas é a verdadeira”, finaliza Rob Arnott.