SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um Volkswagen Jetta é o campeão de multas na cidade de São Paulo. O histórico soma 1.164 infrações de trânsito cadastradas, sendo 395 cometidas apenas nos últimos 12 meses. Desse total, a maioria é por exceder os limites de velocidade máxima e transitar em faixas ou corredores exclusivos de ônibus.
A dívida com essas autuações passa de R$ 250 mil, o preço de um Jetta zero-quilômetro, segundo a tabela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
O carro, considerado porta de entrada para os modelos de luxo, está em circulação pelas ruas do município. Mas se depender do uso de tecnologia de fiscalização, ele corre o risco de ser rebocado.
O Detran-SP (Departamento de Trânsito) de São Paulo está usando inteligência artificial para apertar o cerco contra os chamados veículos contumazes em infração aqueles que acumulam multas sem perspectiva de quitação.
Com uso de tecnologia, é feito o cruzamento dos endereços das infrações cometidas no último ano. São identificados os pontos com maior recorrência e os horários são agrupados para identificar um padrão comportamental de passagens. A partir daí, o Policiamento Militar de Trânsito é alertado e fica de olho nestes locais.
Esses veículos são identificados a partir de um ranking que indica os casos mais graves de reincidência pelo próprio sistema.
O projeto foi iniciado em julho, com a realização das primeiras análises técnicas e cruzamentos de dados. A partir do fim do mês passado, ele passou a ser utilizado de forma efetiva.
Desde então, a fiscalização flagrou três superinfratores, que tiveram seus veículos apreendidos.
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CAMPEÕES DE MULTA
VW Jetta
1.164 infrações, das quais 395 ocorreram nos últimos 12 meses.
JAC J3
1.072 infrações, das quais 160 ocorreram nos últimos 12 meses.
Renault Sandero
995 infrações, das quais 300 ocorreram nos últimos 12 meses.
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Um deles foi um Chevrolet Astra azul, que circulava por Pinheiros na zona oeste, com 602 multas e com R$ 160 mil em infrações de trânsito, o que representa dez vezes seu valor de mercado.
O carro está com licenciamento vencido há 12 anos. O motorista que dirigia o veículo no momento da apreensão, em 5 de setembro, não tinha CNH (Carteira Nacional de Habilitação).
Os outros campeões apreendidos foram dois veículos da mesma marca do Astra. Um Corsa, com 229 infrações e R$ 123 mil de passivo, e uma picape Montana, com 434 multas, que somadas dão um total de R$ 101,6 mil. Sem licenciamento há quatro anos, o utilitário também era dirigido por um condutor não habilitado.
Quando um veículo é apreendido, ele é encaminhado ao pátio. Em muitos casos, o valor das multas e débitos acumulados supera em várias vezes seu valor. Nesses casos, é comum o dono do carro deixá-lo lá e ele acaba indo a leilão, com a receita direcionada para quitação da dívida acumulada.
“Quem insiste em desrespeitar as regras e acumular centenas de infrações não ficará impune”, afirma Anderson Poddis, diretor de Fiscalização de Trânsito do Detran. “Estamos usando inteligência e integração com as forças de segurança para localizar esses veículos e retirá-los de circulação.”
Segundo ele, o projeto nasceu da necessidade de enfrentar a sensação de impunidade de condutores que acumulam centenas de infrações sem alterar seu comportamento no trânsito.
“A multa tem caráter pedagógico, pois funciona como instrumento para induzir mudança de conduta. Quando isso não acontece e o motorista continua oferecendo risco à sociedade, é preciso agir de forma mais incisiva”, afirma.
Por enquanto, o projeto está sendo colocado em prática apenas na capital. Mas a ideia é expandir para outras cidades do estado. Entram na estatística multas de todas as esferas, inclusive municipais e federais.
“Ao retirar de circulação veículos de motoristas contumazes, evitamos que continuem colocando em risco a si mesmos e os demais”, afirma Poddis.