SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Katy Perry trouxe seu novo show, de aspecto futurista, ao The Town na noite deste domingo (14). Ela foi a principal atração do dia, o último do festival, que acontece desde a semana passada no Autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo.

A apresentação foi repleta de referências a arquétipos futuristas, incluindo explosões, Katy lutando com um sabre de luz no estilo “Star Wars” e uma narrativa de videogame. Nada disso comoveu muito a plateia, que por outro lado foi à euforia quando a cantora americana desfilou seu arsenal de hits dançantes.

No The Town, Katy trouxe uma nova turnê em relação à apresentação no irmão carioca do festival paulista, o Rock in Rio. Há cerca de um ano, ocasião do show no Rio, ela lançou “143”, seu álbum mais recente, base da excursão atual e obra que foi escrachada pela crítica —no Brasil e no exterior— desde então.

As avaliações veem a cantora em desconexão com o tempo atual, e longe de atingir as glórias do passado. Talvez justamente por isso, nesta turnê, chamada “Lifetime”, ela mire o futuro. O palco, as vestimentas e os dançarinos abusaram de prateado metálico numa estética com referências à robótica. Ela surgiu no palco cantando “Artificial”, do disco novo, amarrada numa estrutura circular.

A nova turnê de Katy foi anunciada numa midiática viagem da artista ao espaço, em abril, pela qual ela foi criticada por promover o turismo espacial.

O telão e as vinhetas criaram um clima de ficção científica que forneceu o conceito ao mesmo passo que ajudou a esfriar a plateia. A cantora emendou “Chained to the Rhythm”, de 2017, e “Teary Eyes”, de 2020, mas só fez o Autódromo vibrar na quarta faixa, o hit “Dark Horse” —como no Rock in Rio, saudada pelos gritos de “meu nome é Júlia!” ao final dos versos, famoso por um meme brasileiro.

A equipe da cantora entrou em cena para montar estruturas no palco, em intervalos longos entre atos conceituais. “Woman’s World”, seu single de trabalho atual, foi introduzida por um vídeo em que Katy surgiu como heroína de um jogo de videogame —vinhetas que foram recorrentes ao longo do show.

Mas no Autódromo ninguém parecia muito interessado em conceitos ou no espaço sideral. O apelo de Katy reside no repertório festivo e dançante, de apelo jovem, que ela consagrou no pop entre a primeira e a segunda décadas deste século.

E foi o que a americana fez na sequência matadora de “California Gurls”, “Teenage Dream”, “Hot n’ Cold”, “Last Friday Night (T.G.I.F.)” e “I Kissed a Girl”. Festinhas, descoberta da sexualidade, dúvidas sobre os sentimentos alheios —o combo temperado em EDM, a electronic dance music, que cravou seu nome entre as grandes do pop contemporâneo.

Essas músicas foram recebidas com uma animação rara neste ano no The Town. Não só o palco Skyline, o principal, estava cheio —lotação parecida com a dos shows de Green Day e Travis Scott—, como os fãs da cantora estavam dispostos a cantar.

“Tenho 40 anos”, ela disse, depois de cantar “Teenage Dream”, denunciando o teor da música, literalmente sobre um sonho juvenil. “Quarenta e fabulosa!”, complementou.

Ela dedicou “I Kissed a Girl”, que cantou agarrada a uma bandeira LGBTQIA+, à “comunidade gay” que sempre a acompanhou —respondida por um coro ritmado de “gays! gays! gays!” da plateia. Também disse que tinha muita gente para vê-la e brincou de contar as pessoas. “Setenta e cinco mil! O que faço para receber tanto amor do Brasil?”

Em mais de um momento, a plateia gritou declarações de amor a Katy, que repetiu o que disse no Chile e Argentina, onde cantou recentemente, sobre as relações com os fãs. Falou sobre como os empresários dizem que custa caro tocar no Brasil levando toda a estrutura do show.

“Meus maiores fãs estão no Brasil”, afirmou. “Não importa o quão mal ou bem eu esteja, uma coisa que permanece constante são meus fãs brasileiros. Não sei o que eles dão para vocês comerem de café da manhã, mas é muito forte.”

Mas nem o café da manhã turbinado fez os fãs brasileiros se animarem numa sequência de três músicas do disco “143”, sendo elas “Nirvana”, “Crush” e “I’m His, He’s Mine”. A última delas é ancorada num sample de “Gypsy Woman”, hit eletrônico da cantora Crystal Waters.

A historinha de videogame no telão teve um momento interativo —que não parecia mesmo de verdade. Uma das fases do jogo consistia no público votar em uma música acessando um QR code que exibia opções de faixas para serem escolhidas.

Katy cantou a capella trechos de algumas das músicas disponíveis para escolha e apresentou “Harleys in Hawaii”, canção de 2020 que teve recepção morna. Depois disse que na verdade não ia cantar nenhuma das outras opções.

Em baixa na carreira, ela aproveitou para reforçar sua conexão com o público brasileiro. Chamou ao palco um homem da plateia chamado André, de Indaiatuba, em São Paulo, com quem estabeleceu um diálogo hilário por vários minutos.

Eles se apresentaram, André disse que estava solteiro e chamou Katy de gostosa em português e em inglês enquanto o público puxava o coro de “gay!” a cada interação do fã. A cantora disse que era 20% portuguesa, e pediu que ele a ensinasse a falar português —o que acabou com a americana gritando “eu sou gostosa!”.

André disse que queria ser comissário de bordo, e Katy incentivou ele e a plateia a continuarem sonhando. A cantora ainda exibiu uma bandeira do Brasil com seu rosto, que o fã levou ao palco antes de puxar “The One That Got Away”, balada devidamente cantada pela plateia.

Katy ainda passou por “E.T.”, “Part of Me” e “Rise” antes de botar o Autódromo de novo abaixo com “Roar” e voltar a querer subir ao espaço, com “Lifetimes”. Tudo entremeado por vinhetas que arrastaram e alongaram o show.

Em comparação com Travis Scott e Mariah Carey, que no mesmo festival fizeram shows curtos e econômicos, contudo, Perry cantou por quase duas horas e fez de tudo para agradar. Não faltou esforço à cantora no reencontro com os brasileiros.

Ela encerrou com “Firework”, outro hit arrasa-quarteirão, que sugestivamente evocou os fogos de artifício enquanto a plateia pulava e gritava o refrão.

Mesmo com todo conceito e parafernalha, Katy não convence com a ideia de fazer uma ponte para o futuro. Mas mostrou que ainda é capaz de fazer seu fã se conectar diretamente com o passado —provavelmente em algum momentos dos anos 2000 ou 2010, quando sua música estava em todos os cantos.