BELÉM, PA (FOLHAPRESS) – “Já temos lançamento para a COP30, a poção ‘chama gringo'”, anuncia a erveira Cecília Barros Lima, no icônico mercado Ver-o-Peso, em Belém. “Você que estiver encalhada, que estiver solteira, que estiver querendo aquele gringo gostoso, poderoso, vem aqui comigo que eu resolvo o problema, tá?”, dispara em meio a uma gargalhada.
As erveiras, verdadeiros patrimônios da cidade, são conhecidas por vender poções coloridas em pequenos frascos de vidro, que prometem de tudo: de passar em concurso a reconquistar o ex.
A “chama gringo”, nas cores verde e lilás, por R$ 10, é feita de “trevinho da sorte e uns babadinhos com a Pombagira, mas a gente não pode revelar tudo”, diz Cecília. E como se usa? “Como perfume, passando de baixo para cima.”
A poção é apenas um exemplo dos diversos produtos criados por empresas e empreendedores para pegar carona na COP30, conferência climática das Nações Unidas que acontece em novembro na capital paraense.
Sabores de sorvete, pratos em restaurantes, kit de molhos e geleias regionais, camisetas, agendas, bolsas, calendários e até hotel batizado com o nome da cúpula estão entre as apostas para aproveitar o frisson provocado pelo evento da ONU.
“O povo paraense é extremamente criativo e tem um apurado senso de oportunidade. Aproveitar grandes eventos para criar e desenvolver produtos específicos já ocorre no Carnaval, no Círio de Nazaré, no Natal”, destaca Rubens Magno, diretor-superintendente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) no estado.
HOTEL COP30
No bairro da Campina, região central da cidade, um motel desativado, antes chamado Nota 10, foi transformado no hotel COP30. “Já inauguramos com esse nome em outubro do ano passado”, conta o gerente Alcides Moura. Os quartos foram reformados e ganharam quadros com imagens da fauna e da cultura amazônicas.
“Trabalhamos mais com funcionários de empresas que vêm prestar serviço em Belém. Começamos a ter mais procura de turistas agora para o Círio de Nazaré [procissão católica no segundo domingo de outubro].”
Ele conta que o nome fez com que o hotel aparecesse entre os primeiros resultados nas buscas na internet por hospedagem para a COP30.
Para o evento da ONU, o hotel já alugou oito quartos, segundo a administração. A expectativa era fechar o prédio todo para uma só delegação, mas o plano foi mudado para abrir para reservas em geral.
Nos últimos meses, o local virou um dos símbolos da alta de preços da hospedagem na cidade. Em 2023, segundo imagens do Google Street View, o pernoite no lugar custava R$ 70; durante a cúpula da ONU, o valor chegou a R$ 2.500, um crescimento de 3.471%.
SORVETES
Já a tradicional sorveteria Cairu, conhecida pelas receitas com frutas amazônicas, criou o sabor COP30, de pistache com doce de cupuaçu e castanha-do-pará. Segundo Roberto Valério Bino, diretor da empresa, os ingredientes representam “a união do mundo com a amazônia”.
“A castanha e o cupuaçu fazem parte dos sabores da nossa região, e o pistache é uma noz originária do Oriente Médio”, afirmou.
“É bastante procurado nas lojas e tem reposição diária, dada a quantidade de pedidos. Ele tem uma aceitação incrível, principalmente pelos turistas.”
Em visita a Belém, a mineira Ana Luiza Anacleto, proprietária de uma agência de viagem, aprovou a criação. “Gostei muito porque alia um sabor que a gente já conhece, o pistache, que está na moda, com ingredientes paraenses. É uma forma de experimentar esses sabores de uma maneira diferente.”
Outra sorveteria, a Gelateria Damazônia, lançou o sabor COP+, de cumaru (conhecido como baunilha da amazônia), geleia de bacuri e crocante de castanha-do-pará. Parte da renda obtida com as vendas é destinada a projetos sociais da comunidade católica Santa Isabel da Hungria, em Belém.
Ainda no quesito guloseimas, o empresário Marcos Berman, proprietário da doceria que leva o seu nome, lançou, em janeiro, a torta COP30, com massa de pão de ló e recheio de mousses de bacuri e de pistache.
“Escolhi o bacuri porque é uma fruta de sabor único, muito utilizada e difundida em todo o Pará, que combina perfeitamente com pistache, pois nenhum sabor sobrepõe o outro. Pelo contrário, eles se complementam”, afirma.
PIRARUCU E LICOR
Já o restaurante Famiglia Sicilia, que faz fusão entre as culinárias italiana e amazônica, criou o prato “Pirarucu na COP30”.
“Você tem a experiência de provar um peixe de rio que é pré-histórico. Para os aficionados da culinária excêntrica, é uma ótima pedida”, diz Fabio Sicilia, gerente do estabelecimento. Os acompanhamentos são purê de banana da terra, pimentões salteados e farinha de tapioca.
“Quem o consome, leva um prato de cerâmica pintado como recordação”.
Sicilia também é proprietário da marca de chocolates finos Gaudens, que criou para a COP uma nova embalagem, em edição limitada, do licor Castella (de cacau com creme artesanal de castanha-do-pará).
“A garrafa de cerâmica, vitrificada por dentro, tem desenhos inspirados nas pinturas rupestres de Monte Alegre, município no oeste paraense, do artista plástico Marcelo Gil. Foi criada especialmente para a conferência.”
A Gaudens trabalha com cacau paraense fornecido por agricultores familiares.
Outra empresa que atrelou seus produtos à conferência é a Paladar Amazônico, de Ananindeua (região metropolitana de Belém), que fabrica e comercializa produtos com ingredientes locais.
Ela lançou o kit COP30, em cinco versões, com embalagem bilíngue (inglês e português). Cada um traz duas geleias (de 40g cada) e um molho (de 50ml).
“Esse kit foi lançado em novembro de 2024 para as festividades de final de ano. Em janeiro deste ano, nós o rebatizamos de kit COP30, em alusão ao evento”, disse Antônio Cruz, sócio-proprietário da empresa.
Os produtos vendidos separadamente também levam o selo COP 30.
ECOBAGS E CURUPIRA
A artesã Rosemary Rodrigues criou produtos como ecobags, nécessaires, bolsas, pochetes e almofadas com referência à COP30 ou a elementos da cultura paraense. “Uso diversos tipos de material, como lona crua e retalhos de tecidos, e faço upcycling, reaproveitando peças em jeans que seriam descartadas no meio ambiente.”
Segundo ela, desde o final de maio, “os turistas começaram a procurar produtos com a temática da COP”.
A loja Bella Bijoux, no bairro da Campina, comercializa adesivos DTF, para aplicação em diferentes produtos, com a inscrição “COP30 -Belém, Pará, Brasil” e a imagem oficial do Curupira, mascote do evento, além de broches com referência ao evento da ONU.
“Temos entre nossos clientes artesãos do Ver-o-Peso e da praça da República, que usam os DTF para personalizar seus produtos, como bolsas, chapéus, toalhas e camisas. É só passar o ferro que transfere a estampa”, diz Vanderly Rodrigues, funcionária da loja.
Já nos quiosques da Estação das Docas, complexo de gastronomia e lazer às margens da baía do Guajará, é possível encontrar camisetas com estampas do Curupira e de animais da fauna amazônica, além de copos de cerâmica e ímãs de geladeira em alusão ao evento.