SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Belo fez o show mais lotado do palco Quebrada na edição deste ano do The Town. O cantor foi uma das atrações do último dia do festival, que começou na semana passada e acaba neste domingo, no Autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo.
Espaço lateral, nas imediações do palco The One –este, o segundo maior do evento–, o Quebrada ficou pequeno para a quantidade de gente que se juntou para ver Belo. Mais gente que nos shows de Péricles com Dexter, Duquesa e MC Hariel em dias anteriores, para citar alguns exemplos.
Sem muita cerimônia, ele saiu emendando seu repertório, quase todo na boca do povo. Foi de sucessos do tempo de Soweto aos da carreira solo, de “Tempo de Aprender” a “Preciso te Amar”, incluindo “Incondicionalmente”, “Pura Adrenalina”, “Maçã do Amor” e por aí vai.
“É celebrar o amor, é beijo na boca, é isso aí”, ele disse, como se o clima do show já não fosse óbvio. Puxou em seguida “Perfume”, com a banda parando para deixar o coro da plateia se sobressair, e “Intriga da Oposição” –esta, com uma referência instrumental a “Is This Love”, de Bob Marley.
A banda de Belo, aliás, foi um espetáculo à parte. Com levadas quebradas e viradas no contratempo, a bateria dialogou com a cama rítmica dada pelos tambores do samba. Um naipe de sopro com seis instrumentistas abrilhantou as harmonias, carregando as músicas e indicando os caminhos para os arranjos.
As cordas, se poderiam fornecer mais uma dose de pieguice a um som já excessivamente meloso, acabaram casando bem com a energia da percussão de samba. Se deu algum impulso ao repertório, foi mais de refino do que de cafonice.
Apesar do repertório romântico, Belo passou pelo palco Quebrada como um rolo compressor. Nada de intervalo entre uma performance e outra –tudo acabou emendado num fluxo contínuo de sofrência anos 2000 que impediu a plateia de cair no tédio.
Se o pagode é o resultado da mistura do samba com a música romântica negra americana, talvez Belo seja o mais R&B entre os pagodeiros. Sua música é antes sentimento de paixão e vida em casal vertida em letra e melodia do que batucada e síncope –ainda que esse seja exatamente o molho da massaroca sonora, no show mais acelerada que nas gravações.
No palco Quebrada, isso ficou ainda mais evidente. “Razão da Minha Vida” foi temperada com um teclado saturado e gaita, num aceno estética consagrada por Stevie Wonder, e “Refém do Coração” foi preenchida por coros no estilo gospel americano.
O clima religioso seguiu logo depois de Belo celebrar estar no palco “da nossa comunidade, periferia, povo preto, quebrada”, e chamar ao palco o Coral Heliópolis, assim como ele, da zona sul de São Paulo. Eles cantaram um clássico cristão, “Noites Traiçoeiras”, levando algumas pessoas na plateia às lágrimas.
Belo ainda recebeu no palco o compositor Nico Rezende, a quem mostrou reverência, para uma performance de “Transas”. A música ficou conhecida no fim dos anos 1980, na voz do cantor Ritchie.
A reta final foi de mais sucessos — “Reinventar”, “Desse Jeito é Ruim pra Mim”, “Ser Feliz de Novo”, um cover de “Mas que Nada”, de Jorge Ben Jor, “Derê”, esta levada na pressão do tantã. Belo saiu em meio a labaredas de fogo cuspidas do palco, enquanto o público já se dirigia para ver Ludmilla –ela, aliás, fã do pagodeiro– no espaço ao lado.