SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) cancelou um evento que aconteceria neste domingo (14) na universidade com o historiador e escritor Eduardo Bueno depois que ele comemorou a morte do influenciador trumpista Charlie Kirk.
Bueno apresentaria espetáculo “Brasil: Pecado Capital” no Salão de Atos Irmão Norberto Rauch, no campus da universidade em Porto Alegre. Em nota, a instituição católica disse ter rescindido o contrato e afirmou que reforça “seu compromisso com a liberdade de expressão, mas repudia qualquer manifestação contrária à vida e à dignidade humana, reafirmando que tal postura não condiz com sua cultura nem com seus valores institucionais”.
Em vídeo postado no Instagram na sexta-feira (12), Bueno disse: “É sempre terrível, não é? Um ativista sendo morto por suas ideias. Exceto quando é o Charlie Kirk! Mataram o Charlie Kirk, ai, coitado, tomou um tiro, não sei se na cara”.
“O Charlie Kirk, sabe quem é?”, prosseguiu Bueno. “Ele tem duas filhas pequenas [na verdade, Kirk deixa um filho de 1 ano e uma filha de 3]. Que bom pras filhas dele, que vão crescer sem a presença de um sujeito repugnante, canalha, racista, homofóbico, ligado ao pedófilo do Donald Trump”.
Outro evento que seria realizado na Livraria da Travessa em Porto Alegre pelo historiador também foi suspenso, e o podcast do qual Bueno participava há três anos, o “Nós na História”, também foi cancelado.
Mais tarde, o historiador se retratou, dizendo ter cometido deslizes e excessos, mas que as redes sociais “frequentemente incitam” e afirmou ter sido alvo de campanha da extrema direita para desviar a atenção do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no STF.
O deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL) postou o vídeo original de Bueno, com legendas em inglês, pedindo que o caso chegasse às autoridades dos Estados Unidos. O vice-secretário de Estado dos EUA, Christopher Landau, respondeu à publicação com uma imagem simulando um bat-sinal e os dizeres “el quitavisas”, o tirador de vistos, em espanhol.
Desde a morte de Kirk, Landau tem repostado a mesma imagem como resposta a uma série de usuários que expõem estrangeiros que comemoraram a morte de Kirk, prometendo revogar seus vistos para os EUA.
Aliados de Trump intensificaram uma campanha online para identificar pessoas que fizeram piada ou celebraram a morte de Kirk. Segundo um levantamento da agência de notícias Reuters, pelo menos 13 pessoas nos EUA, incluindo professores e jornalistas, já perderam o emprego depois que influenciadores de direita denunciaram suas reações ao assassinato.
Alguns republicanos, como a influente ativista trumpista Laura Loomer, pedem que a Casa Branca deporte imigrantes que criticarem Kirk ou processe americanos que fizerem o mesmo. “Se prepare para ter todo o seu futuro profissional destruído se você for doente o bastante para celebrar a morte de Charlie”, disse Loomer no X.
Landau disse na quinta (11) que Washington pode tomar medidas contra estrangeiros que estejam “elogiando, racionalizando ou fazendo pouco caso” do assassinato. Segundo ele, funcionários consulares receberam instruções para tomarem medidas apropriadas.
“À luz do horrível assassinato de uma importante figura política ocorrido ontem, quero enfatizar que estrangeiros que glorificam a violência e o ódio não são visitantes bem-vindos em nosso país”, escreveu Landau em uma publicação na rede social X.
Um site recém-registrado chamado “Expose Charlie’s Murderers” (Exponha os assassinos de Charlie) reúne nomes de 41 pessoas, a maioria sem perfil público, que supostamente “apoiam a violência política online” com o objetivo de fazer com que quem celebrou ou relativizou a morte de Kirk sofra consequências profissionais. O site inclui nome completo e cidade onde moram e afirma estar analisando mais de 30 mil denúncias. “Essa é a maior operação de demissões da história”, diz.
As publicações reunidas no site incluem pessoas comemorando o assassinato, mas também publicações que se tratam apenas de críticas ao influenciador trumpista e a suas falas, consideradas por críticos como racistas e machistas.