SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dedos pressionados na lateral da cabeça, microfone milimetricamente posicionado abaixo da boca e pronto -Mariah Carey solta os agudos estridentes que são seu superpoder. Foi assim, com o hit “Emotions”, que ela cumprimentou a multidão que esperou até 23h30 para vê-la no palco principal do The Town, em São Paulo, neste sábado.
Vocalista mais potente de sua geração, Mariah sempre fez, e ainda faz, da voz algo assombroso, especialmente ao vivo. Ela troca notas e segura melismas com uma habilidade que quase nenhuma artista do pop hoje ousa imitar.
Mariah cantou por uma hora e dez com o semblante neutro, sem parar de emitir as notas agudas que soam como apitos. Às vezes, aparentava estar entediada. Ela faz o show no automático, sem fugir do roteiro, e interage pouco com o público –diz só os “estão se divertido?” e “obrigada” de sempre.
Além disso, a cantora americana leva alguns minutos para trocar de roupa, o que fez três vezes aos longo da apresentação, enquanto um ou mais bailarinos sensualizam no palco. Nesses momentos, várias pessoas sacaram os celulares do bolso e pararam de prestar atenção.
O show começou com “Dangerous Type”, sua música nova, porta de entrada para o álbum “Here for It All”, que Mariah lança em duas semanas. No The Town, ela apresentou apenas metade da música e não fez menção ao remix que gravou com a brasileira Luísa Sonza. Foi direto para o que importava.
O disco que ela vai lançar agora é seu primeiro projeto inédito em sete anos, e a cantora aproveitou o show para mandar um recado para o público. “Comprem na pré-venda”, disse, sem disfarçar que estava lendo em uma tela na base do palco.
Surgiu com um macaquinho verde, azul e amarelo, de novo um figurino pensado especialmente para o Brasil, como fez no Rock in Rio do ano passado, quando usou um vestido que mostrava a bandeira do país.
Depois de trocar de roupa e pôr um vestido curto prateado, Mariah fez uma sequência de arrepiar, “Hero” e “Without You”, dois sucessos dos anos 1990 que resumem bem o peso dela na música pop. Em tempos em que alcance vocal era fundamental para uma diva pop, Mariah virou estrela -e referência.
Ela é musa de Ariana Grande, por exemplo, que também arrisca falsetes e agudos. Fã declarada de Mariah, a cantora entregou um prêmio para a musa no VMA, o Video Music Awards, que no domingo passado homenageou Mariah pela sua carreira. Ela disse que não entendia por que tinha demorado tanto para vencer um troféu daquele.
Mariah influenciou também cantoras do Brasil, como Anitta e Sandy, com quem protagonizou um momento constrangedor em uma entrevista no programa Fantástico, da TV Globo, em 2002. Muito nervosa diante da diva, Sandy soltou frases que viraram meme na internet.
Mais uma troca de roupa depois, de vestido longo e verde-escuro, Mariah apresentou “Don’t Forget About Us”, de 2005, quando já não vivia seu auge, mas ainda emplacava sucessos. Mais ou menos da mesma época é “Obsessed”, lançada em 2009, um dos seus maiores hits, que ferveu a plateia.
Mariah confia tanto na sua voz que mal se move no palco, algo já característico das performances dela, mas agora mais forte que nunca. É diva, é pop, mas não parece ter saco para seguir a cartilha esperada desse tipo de performance –coreografias superelaboradas e bateção de cabelo, por exemplo. É uma atitude que sempre guiou sua carreira.
Ela enfileira músicas amadas por quem gosta de pop –“Touch My Body”, “Always Be My Baby” e “Dreamlover”. Apesar das pausas, o show prende a atenção e acaba com gosto de quero mais. Ficou para o final a apoteótica “I Want to Know What Love Is”, que hipnotiza o público, e fez ecoar pelo campo a voz de Mariah Carey.