MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – Ao decidir passar uns dias de férias, entre julho e agosto, em Castel Gandolfo, a residência de verão do Vaticano, o papa Leão 14 emitiu dois sinais. O primeiro foi retomar mais uma tradição que tinha sido deixada de lado pelo papa Francisco, indicando que seu pontificado seguirá uma linha menos disruptiva do que a do antecessor. O segundo foi que o período seria usado para reflexões, em preparação para os primeiros anúncios importantes desde que assumiu, há pouco mais de quatro meses.
Para as próximas semanas são esperadas a publicação de uma exortação apostólica, o primeiro documento de alto nível deste papado, confirmações e nomeações para cargos na Cúria Romana, o braço administrativo do Vaticano, e a divulgação de qual será o primeiro destino internacional de Leão 14.
Já neste domingo (14), quando Robert Prevost completa 70 anos, devem sair alguns resultados do seu período de férias, com a divulgação de trechos da primeira entrevista concedida por ele, em Castel Gandolfo. O material faz parte da biografia escrita pela jornalista Elise Ann Allen, prevista para ser publicada nesta semana no Peru.
Também em setembro deve sair a primeira exortação apostólica de Leão 14. Escrito pelo papa como forma de orientar os católicos, o texto deve ser dedicado aos pobres e poderá indicar prioridades do papado. Segundo a Reuters, o título será “Dilexit te” (ele te amou, em latim), referência direta à última encíclica (mais importante que uma exortação) de Francisco, “Dilexit nos” (ele nos amou).
“Vamos começar a entender este pontificado com a primeira exortação apostólica. Até agora foi muito concentrado na paz, mas uma outra parte será desvelada, que é a justiça social”, diz Giacomo Galeazzi, vaticanista do jornal La Stampa. A desigualdade entre norte e sul global e a desocupação entre jovens podem estar entre os temas.
lém da insistente reprovação sobre o que acontece na Ucrânia e na Faixa de Gaza, a infância e a juventude têm tido atenção especial do papa. Ele menciona esses grupos frequentemente e teve participação destacada no Jubileu dos Jovens, que reuniu milhares de pessoas em agosto. Em junho, encontrou jovens dependentes químicos em recuperação.
Nos próximos meses, Leão 14 tem algumas nomeações à sua espera em Roma. Uma delas é o nome do próximo prefeito do Dicastério para os Bispos, posto que está vago desde a sua eleição, em maio. A confirmação do cardeal Pietro Parolin como secretário de Estado, posto mais importante na Cúria, é dada como certa, mas restam dúvidas sobre os dicastérios econômicos.
Outro anúncio aguardado é qual será a primeira viagem internacional. O próprio papa indicou que gostaria de ir para a Turquia ainda neste ano, para celebrar os 1700 anos do primeiro Concílio Ecumênico de Niceia, possivelmente em novembro. A viagem é considerada uma ocasião para reforçar o diálogo do Vaticano com o catolicismo ortodoxo, em um momento em que Rússia e Ucrânia, dois países cristãos ortodoxos, estão em guerra.
Para o próximo ano, vaticanistas apostam em uma visita à América do Sul, com passagem pelo Peru, onde Leão 14 viveu por duas décadas.
As expectativas em torno de novidades no curto prazo aumentam diante do perfil de Prevost. Mais reservado e moderado que Francisco em seu modo de comunicar, tem sido considerado enigmático. “Ele está buscando discernir sobre as questões que tem pela frente. Não tomou decisões importantes e se mostra muito prudente”, diz Galeazzi. “Tem sido mais um diretor de orquestra do que um solista. Francisco era mais um solista, genial, mas solista.”
Um exemplo é o esforço de mostrar equilíbrio entre gestos a conservadores e progressistas. Recentemente, no intervalo de dez dias, o papa recebeu o cardeal americano Raymond Burke, figura-chave do conservadorismo católico nos EUA, e o padre James Martin, também americano, próximo da comunidade LGBTQIA+. “Ele está conquistando a confiança de todos, seja de progressistas, seja de conservadores. Depois, quando tomará decisões fundamentais, certamente vai descontentar um lado”, diz o vaticanista.