SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Símbolo das festas dos anos 2000 e presença constante nos tapetes vermelhos em nomes como Kim Kardashian, Paris Hilton e Lindsay Lohan, o vestido bandage voltou a ganhar espaço nos guarda-roupas e araras de lojas. No TikTok, influenciadoras de moda exibem looks com a peça e mostram como ela aperta, levanta e desenha as curvas do corpo.

Feito de tiras elásticas que acompanham a silhueta, o modelo aparece em versões curtas, acima dos joelhos, ou no comprimento midi. Essa construção cria o efeito de bandagem, que nomeia a peça.

O vestido surgiu ainda nos anos 1980 –não no início do século 21, como muita gente acredita. Segundo a jornalista, consultora e crítica de moda Lilian Pacce, a década foi marcada pelo power dressing e pela ideia de que as mulheres poderiam se empoderar também pela forma de se vestir.

Ela explica que a estética bandage não se resume à sensualidade. “Quando bem feito, o vestido valoriza as curvas, segura o volume extra que você não quer revelar e funciona quase como uma cinta, dependendo da construção e do material”, observa.

Lilian destaca que a peça reapareceu em ciclos de aproximadamente quinze anos. Na visão dela, a volta atual se relaciona com discursos sobre magreza rápida e o uso das canetas emagrecedoras. “Pode ser até um ‘efeito Ozempic’. As pessoas continuam obcecadas pelo culto ao corpo, que vai muito além da questão da saúde”, diz.

Ela aponta ainda a contradição: enquanto cresce a busca por práticas de bem-estar e reconexão com a natureza, ganha força uma moda que molda e aperta o corpo. “São duas pontas da mesma questão.”

O estilista e professor do curso de moda da FAAP Lorenzo Merlino complementa ao lembrar que o bandage sempre esteve ligado a ideais de corpo perfeito. Para ele, o fascínio pela peça nasceu com as transformações culturais dos anos 80, marcados pela ginástica aeróbica, pela popularização do cooper e pelos vídeos de Jane Fonda.

“A partir dos anos 80, a sociedade deixou de esperar que a roupa construísse o corpo. Passou a demandar que as próprias pessoas construíssem seus corpos, com ginástica, regimes e cirurgias plásticas. O bandage é resultado disso.”

A associação direta com a magreza também ajuda a entender seu retorno hoje. Merlino avalia que a peça dialoga com esse padrão, mas lembra que ele não é o único em circulação. “O retorno do bandage está conectado à valorização da magreza, mas convive com outros padrões. Esse multifacetamento é reflexo da diversidade de informações que nos bombardeiam todos os dias.”

Além da ligação com as festa, a peça nasceu dentro da alta costura. Embora seja comum atribuir a criação a Hervé Léger, Merlino esclarece que o responsável foi Azzedine Alaïa. “A Fundação Alaïa organizou recentemente uma exposição que comparava seu trabalho ao do designer japonês Shiro Kuramata”, diz. Entre os exemplos marcantes está o vestido feito para a cantora Grace Jones, que unia sensualidade e arquitetura no palco.

Essa trajetória explica por que, mesmo décadas depois, o bandage continuou em alta. Nos anos 2000, celebridades transformaram o vestido em uniforme de festas e símbolo de glamour. Ajustado à pele, reforçava uma estética de exibição. Hoje, o mesmo efeito se repete nas redes sociais, nessa busca por se sentir sexy e empoderada com as próprias curvas.

O ritmo do ciclo, no entanto, mudou. Se antes a peça permanecia por anos, agora pode ter vida útil muito mais curta. “Vivemos uma época de microtrends. No ano passado se falava em Barbiecore, depois em quiet luxury. Agora já não se fala mais. O bandage pode ter essa mesma duração curta”, avalia Merlino.

No styling, quase nada se altera. O estilista nota que as imagens atuais lembram as de décadas anteriores. “Invariavelmente as fotos mostram cabelo arrumado, maquiagem carregada e a pose de Instagram com a perna à frente, para afinar a silhueta. Não vejo grandes diferenças.”