SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com apenas cinco questões de múltipla escolha, a prova de inglês ou espanhol do Enem acaba se escondendo entre as outras disciplinas de peso do primeiro dia da avaliação –composta pelas áreas de linguagens, ciências humanas e redação. No entanto, ignorar essa parte é um erro estratégico.
O objetivo da banca do Enem não é avaliar a fluência do estudante, mas sim a capacidade de compreender a mensagem central de textos em outro idioma.
Segundo Marcelo Barros, diretor de educação do CNA+, há dois conjuntos de habilidades essenciais para realizar a prova de língua estrangeira no Enem.
O primeiro é o conhecimento linguístico -como ler, escrever e compreender o idioma-, e o segundo é a habilidade de interpretação e resolução de questões, o chamado “test-taking”. Ao contrário de vestibulares mais tradicionais, como a Fuvest, que cobram conhecimento gramatical mais aprofundado, o Enem foca a habilidade de interpretação de texto.
Por isso, saber fazer a prova pode ser tão ou até mais importante do que dominar a língua estrangeira escolhida. “O estudante deve procurar aquele conhecimento que ele tem maior naquele idioma, seja o idioma inglês, seja o idioma espanhol. Mas mais importante do que isso, independentemente da escolha dele, é aprender como lidar com a prova do Enem.”
Uma das primeiras decisões do candidato na hora da inscrição do Enem é a escolha entre inglês e espanhol. Alguns candidatos se sentem tentados a escolher o espanhol por acreditarem que, por ser similar ao português, a prova será mais fácil.
Mas isso não é verdade. Samuel Ferreira Gama Júnior, orientador de carreiras da Escola Bilíngue Aubrick, lembra que existem falsos cognatos, que são aquelas palavras que parecem muito semelhantes com a língua portuguesa, mas que na verdade significam outra coisa, seja no inglês ou no espanhol.
“Por exemplo, ‘library’, que o pessoal fala que é uma livraria, mas é uma biblioteca. A palavra ‘pretend’, algumas pessoas acham que é pretender, mas significa fingir. Da mesma forma que o espanhol, ‘embarazada’, que significa grávida e que não tem nada a ver com embaraçado na língua portuguesa”, explica Gama Júnior.
Por isso, os candidatos que dominam a leitura crítica e a interpretação têm uma vantagem significativa, apesar de um possível vocabulário desconhecido. Para isso, os especialistas consultados pela Folha destacam duas técnicas de leitura que os estudantes devem dominar.
O primeiro deles é o “skimming” (deslizando, em português), que é a técnica de leitura rápida e superficial para captar a ideia geral do texto. O segundo é o “scanning” (digitalizar/explorar, em português), que é a busca por informações específicas, como datas ou nomes, dentro do texto.
“Se o aluno domina essas duas estratégias de leitura e interpretação de texto, saber o significado daquela palavra específica cai para segundo plano”, explica Barros.
Apesar de representar apenas cinco questões dentro da área de linguagens no Enem, a parte de língua estrangeira, seja o inglês ou espanhol, pode ser decisiva para os estudantes.
Gama Júnior, da Aubrick, ressalta que alguns candidatos subestimam as questões da área no Enem, mas que, no contexto da TRI (Teoria de Resposta ao Item), cada acerto precisa demonstrar consistência.
Acertar questões fáceis e médias é mais bem avaliado pelo sistema do que errar os itens difíceis. “Se o estudante acerta as difíceis e erra as fáceis, o sistema entende que ele chutou, e isso prejudica a nota”, explica Gama Júnior.
Por isso, dar atenção especial aos itens de língua estrangeira não é apenas uma forma de garantir acertos fáceis, mas também uma estratégia para evitar perdas na nota final do candidato.
Inglês
Nas questões de inglês, os temas mais recorrentes envolvem interpretação de artigos, reportagens, textos pessoais, letras de músicas e poemas. Para lidar com esse tipo de conteúdo de forma mais assertiva, o estudante deve ter estratégias focadas em leitura.
Segundo Marcelo Barros, do CNA+, a dica principal é simples, mas frequentemente é esquecida pelos estudantes. “Ler a pergunta antes de começar a ler o texto. Pode parecer óbvio, mas tem um monte de aluno que já começa a ler o texto sem saber para que está lendo. Isso é muito tão grave quanto comum.”
Essa prática ajuda o candidato a saber exatamente o que buscar, otimizando o tempo e direcionando o foco da leitura. Além disso, identificar palavras-chaves na pergunta e nas alternativas pode ajudar a localizar rapidamente trechos importantes no texto, facilitando a resposta correta.
“Se é um texto publicitário, é para convencer. Se é um poema, é para causar emoção. Se é uma letra de música, é para seguir um ritmo. Então, saber o objetivo do texto ajuda bastante na hora de responder as perguntas”, afirma Barros.
ESPANHOL
No Enem, as questões de espanhol costumam exigir mais do que apenas a compreensão literal dos textos. De acordo com Gama Júnior, da Aubrick, por conta da proximidade entre o espanhol e o português, traz desafios mais complexos de interpretação.
As questões que pedem, por exemplo, a identificação de críticas feitas pelo autor ou a interpretação de expressões. “Em sua maioria, são itens que vão trazer aspectos de ideia geral do texto, ou algumas informações específicas, ou o que nós também chamamos de questões inferenciais, que vão além do literal”, explica Gama Júnior.
Para se preparar melhor, o orientador recomenda aos estudantes a refazer provas anteriores e se expor ao máximo aos conteúdos em espanhol, como reportagens jornalísticas, tirinhas da Mafalda e campanhas publicitárias.
Além disso, dominar os conectores textuais em espanhol, como “sin embargo”, “además” e “por lo tanto”, é essencial para entender a lógica e a coesão do texto. “Quanto mais eles conseguirem entender isso, melhor a fluência deles de leitura”, conclui orientador de carreiras da Escola Bilíngue Aubrick.