SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os temidos impactos da inteligência artificial para o mercado de trabalho são modestos até agora, com a maior parte das empresas relatando poucas demissões.

A tendência é que os cortes aumentem daqui para a frente, mas a expectativa também é de mais contratações de trabalhadores familiarizados com a ferramenta, apontando um cenário de relativo equilíbrio.

Esse é o balanço feito por um estudo publicado pelo Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) de Nova York no início deste mês, que se dedicou a medir os efeitos da IA sobre os trabalhadores americanos até agora –a pesquisa também foi feita no ano passado.

Os pesquisadores entrevistaram companhias na região de Nova York e no norte de Nova Jersey, e chegaram à conclusão de que 40% das empresas de serviços já usam IA. Os efeitos dessa utilização sobre o trabalho são variados e podem ser tanto positivos como negativos, dependendo do segmento de atuação de cada empresa.

O estudo aponta ainda que, para aqueles que já possuem emprego, a tendência é que sejam treinados para o uso da IA, e não substituídos por ela.

“A IA está influenciando o recrutamento, com algumas empresas reduzindo as contratações e outras adicionando trabalhadores proficientes em seu uso”, apontam os pesquisadores. “No entanto, daqui para frente, espera-se que as demissões e a redução nos planos de contratação devido ao uso da IA aumentem”, acrescentam.

A pesquisa considerou que as empresas possuem quatro alternativas em resposta à IA: podem demitir trabalhadores e substituí-los pela ferramenta, reduzir as contratações planejadas, contratar novos funcionários que saibam usar a IA ou voltar a treinar sua força de trabalho para uso da tecnologia.

Entre as empresas de serviços, apenas 1% afirmou ter demitido trabalhadores nos últimos seis meses por causa da IA, uma redução em relação aos 10% que afirmaram optar por demissões no ano passado.

Apesar disso, 13% das companhias do setor responderam que farão demissões nos próximos seis meses por causa do uso de IA. “Na pesquisa do ano passado, a mesma porcentagem esperava demitir trabalhadores, quando na verdade muito poucas o fizeram este ano”, pondera o estudo.

No caso do setor manufatureiro, nenhum relatou demissões nem espera cortes pelos próximos seis meses.

Apesar do cenário positivo do ponto de vista de desligamentos, cerca de 12% das empresas de serviços que usam IA disseram que contrataram menos trabalhadores nos últimos seis meses.

“Isso é consistente com as descobertas de uma pesquisa regional da Dallas Fed, que descobriu que 10% dos executivos de negócios relataram que a IA diminuiu sua necessidade de trabalhadores”, afirma o estudo. “Curiosamente, a redução nas contratações devido à IA foi concentrada em empregos que exigem um diploma universitário. Tais restrições nas contratações podem estar contribuindo em pequena parte para os relatos de recém-formados lutando para encontrar empregos.”

Mas esse é apenas um recorte. Outro bloco de empresas (cerca de 11% daquelas do setor de serviços e 7% do setor manufatureiro) disse ter contratado mais trabalhadores devido à IA, e 10% a 15%, respectivamente, esperavam contratar novos trabalhadores nos próximos seis meses.

O estudo também apontou que grande parte das empresas dizem fazer treinamento de seus funcionários para que consigam usar a ferramenta. “Pouco mais de um terço das empresas de serviços e 14% das empresas de manufatura relatam treinar trabalhadores em resposta à IA”, dizem os pesquisadores.

A pesquisa perguntou às empresas se elas usaram IA como parte de seu processo de negócios nos últimos seis meses e se planejavam usar pelos próximos seis. Os pesquisadores especificaram que, por usuárias de IA, entende-se aquelas que usaram a ferramenta para marketing, análise de negócios, gerenciamento de dados e atendimento ao cliente.

A conclusão foi que 40% das empresas de serviços relataram esse tipo de uso de IA neste ano, uma alta de 25% na comparação com a mesma pesquisa feita no ano passado. Entre as companhias ouvidas, 44% afirmaram que pretendem usar a inteligência artificial no futuro próximo.

No setor de manufatura, o percentual aumentou de 16%, no ano passado, para 26% neste ano, com cerca de um terço apontando que usará a IA nos próximos seis meses.

O uso de IA variou bastante entre as empresas de diferentes setores. Mais da metade das companhias nos setores de informação, finanças e serviços profissionais e empresariais relataram usar IA como parte de seus processos de negócios, enquanto nenhuma empresa da indústria agrícola indicou usar a ferramenta.

Nos setores atacadista e de lazer e hotelaria, cerca de 40% a 45% das empresas já usam a ferramenta, assim como um terço das companhias nos setores de educação e saúde, serviços pessoais e varejo.

Atualmente, metade das empresas de serviços afirmam que usam ferramentas pagas de IA, uma alta de 16 pontos percentuais na comparação com a pesquisa realizada no ano passado. No caso das empresas do setor manufatureiro, houve um salto de 39 pontos percentuais naquelas que usam ferramentas pagas, para 46%.