SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quando ganhou renome no Brasil em 2011 com o disco “Nó na Orelha”, Criolo mostrou que sabia comunicar pelo hip-hop a diversa paisagem sonora da periferia de São Paulo –um espaço que pouco tem a ver com uma ideia compartimentada, uma imagem tão telenovelesca quanto os dizeres emulando um grafite no pórtico do Palco Quebrada do The Town.

Neste mesmo palco, neste sábado (13), o cantor mostrou que ainda domina essa conversa. Entre reggae e pagode, rap e afrobeat, pontos de macumba e até drum’n’bass, Criolo fez uma apresentação potente em uma noite fria do festival.

O artista subiu ao palco vestindo uma jaqueta estampada com a foto da deputada Erika Hilton e os escritos “Deixa Arder”. Motivos comuns à sua obra completavam a cenografia, como o brasão do Corinthians e dedicatórias a trabalhadores –neste caso lembrados por uma faixa em que se lia “e viva os carrega!”

A apresentação se dividiu essencialmente entre os dois discos de maior sucesso do artista, seu álbum de 2011 e “Convoque seu Buda”, de 2014. O reggae foi o ponto de partida em faixas como “Mariô” e “Duas de Cinco”, com arranjos que destacavam linhas de baixo e as bases eletrônicas produzidas por nomes como Daniel Ganjaman.

No interlúdio “Canto de Xangô”, canção original de Baden Powell e Vinícius de Moraes, percussões e texturas orgânicas ganharam espaço sem abandonar a intenção hip-hop do artista, que mostrou seu lado mais rapper em “Subirosdoistiozin”, faixa com intricado jogo de palavras e métrica.

Com uma banda afiada, Criolo também sabe a hora de deixar as coisas como são. É o caso de “Não Existe Amor em SP”, composição em que o artista conseguiu a façanha de criar um hino triste, um caminho tortuoso que não usa o atalho de elogios falsos. Sem necessidade de novos arranjos, a faixa mantém seu efeito de clássico moderno ao vivo.

O artista também retoma o clássico quando assume a verve sambista. Sentado num banquinho, ele canta sambas como “Menino Mimado”, de sua autoria, e a canção “O Carnaval Chegou”, quando abre mais espaço ao cavaquinista da banda. O músico e parte da banda de palco são parte do Pagode da 17, uma das mais importantes manifestações do samba paulista atualmente.

A apresentação também contou com a apresentação de Stefanie MC, nome forte do rap nacional que após anos de carreira lançou seu primeiro disco em 2025 –história similar ao que viveu o próprio Criolo. Puxando outros consigo, o artista fechou o show como manda a cartilha do hip-hop: acompanhado do seu bonde, com dezenas a seu lado, e a multidão aplaudindo.