SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Se houvesse nos Estados Unidos algo como o brega romântico brasileiro, Lionel Richie provavelmente seria seu maior representante. Dono de um romantismo rasgado e escancarado, o cantor americano embalou casais e emocionou solteiros na noite deste sábado (13) no The Town.
Aos 76 anos, o artista fez uma das principais apresentações do dia no festival, que começou semana passada e vai até domingo (14) no Autódromo de Interlagos, na zona sul da capital paulista. Cantou imediatamente antes da estrela da noite, Mariah Carey, atração do palco principal.
Richie arrastou uma multidão ao palco The One, o segundo maior do evento. O público parecia mais numeroso do que o visto no mesmo horário e espaço outros dias –com artistas como Luisa Sonza, na sexta (12), Iggy Pop e Lauryn Hill na semana passada.
O clima frio não foi problema para a multidão, que ansiava por um reencontro com o artista –sua última apresentação no Brasil havia sido em 2016. “Eu quero que vocês cantem o mais alto que puderem, que dancem tudo que puderem”, disse o artista assim que começou o show, uma sequência de hits que se espalham por décadas de carreira.
Richie despontou ao sucesso comandando o grupo Commodores, um dos grandes a representar a motown nos anos 1970. A obra da banda representou quase metade do repertório do show deste sábado, respondendo pelos momentos mais animados –e também alguns dos mais emocionantes.
O ápice dessa fatia da setlist foi “Easy”, em performance que pareceu fazer a plateia em Interlagos pairar no ar. O público cantou em coro o refrão da música –mãos ao alto, olhos fechados e gargantas em ação, como a melodia ao mesmo tempo tranquila e profunda da música evoca.
Com um canto calcado no R&B e no soul americanos, Lionel também mostrou que segue capaz de passear sem esforço pelas melodias intrincadas no estilo Stevie Wonder e criar dinamismo sem perder a intensidade da voz. Em um curto espaço de tempo, foi da emocionante “Sail On” para o funk “Brick House”.
A faixa destacou a participação de Grecco Buratto. O gaúcho, que já tocou com Shakira e Earth, Wind & Fire, acompanhou Lionel no palco, por vezes se juntando ao lado do cantor nas performances. Ainda na seção funk do show, o guitarrista encerrou a faixa “Brick House” com um solo ao mesmo tempo curto e grandioso.
O trunfo de Richie no palco, no entanto, mora mesmo no romantismo rasgado. Dos teclados simulando pianos altíssimos com cheiro de anos 1980 aos maneirismos vocais de crooner garanhão, o artista mostra em faixas como “My First Love” que não existe amor demais –nem mesmo quando o outro está ausente: Lionel pediu ao público que fizesse as vezes de Diana Ross nessa faixa.
A conexão entre o artista e seu público era quase palpável. Em “Say You, Say Me”, o artista se sentou ao piano e mais uma vez convocou o público emocionado –como se aquele repertório, naquela interpretação, tivesse a capacidade de cutucar algum lugar profundo da alma dos milhares de presentes.
Em um dos momentos mais gregários do show, Lionel lembrou de Michael Jackson, seu parceiro de composição em “We Are the World”. A canção foi entoada por toda a plateia, que dedicou quase um minuto de aplausos ao artista.
Para apaziguar os ânimos de amor e terminar o show em clima de festa, o artista ainda encaixou o clássico “All Night Long” com uma banda exibindo maestria –bateria em polirritmia exuberante, sopros com ataque e articulações poderosas.
Após pouco mais de uma hora de apresentação, não restou dúvidas de que aquele foi o show mais romântico, e um dos mais festeiros, do The Town. Se na festa Ivete deve levar a liderança, só há uma pessoa capaz de fazer frente ao romance de Lionel –Belo, que canta no festival acompanhado de uma orquestra na noite deste domingo (14).