SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Júnior, filho de Xororó e irmão de Sandy, há mais de trinta anos ocupa o imaginário brasileiro entre programas de TV e sucessos radiofônicos. Mas Júnior, o cantor pop, tem pouco menos de três anos de carreira –a contar de seu primeiro álbum solo, cujo título é o nada criativo “Solo”.

É nessa dualidade do adulto entrando no mercado de trabalho e do adolescente que nunca pode se rebelar que Junior montou seu show para o The Town, uma apresentação que contou com o cantor se manifestando acerca dos recentes acontecimentos políticos do país ao gritar “anistia é o caralho!”

Em cerca de uma hora, o artista tenta abraçar e às vezes se confunde entre passado e presente. O que conecta os dois pontos é a obviedade, não há espaço para interpretação no show. Há sentido. Seu disco solo, que dá liga nova ao artista, se chama “Solo”. O título foi repetido no álbum seguinte.

É tão óbvio que os vídeos que acompanham a performance, em formato de anúncios de tripulação de avião –uma referência a voo solo, ora ora–, anunciam cada etapa do show. O último terço começa após uma voz afirmar algo como “estamos quase pousando”.

Nessa esteira vem a música “Foda-se”, um espetáculo algo risível. Junior canta sua rebeldia perdida soltando, a esmo, variações do título da faixa. Chocaria o Brasil se fosse ele e a irmã numa tarde de domingo no Faustão em 1998 –mas é um festival de música no absurdo ano de 2025.

Orientado mais como artista vocal, Junior também faz boas intervenções com instrumentos. Exibe seu domínio na bateria em interlúdio, manda acordes pop rock no violão e com uma guitarra Flying V, entre punk e metal, encarna uma versão roqueira de “Enrosca”.

Instrumentista talentoso, Júnior é um cantor corretíssimo. Faz seu falsete porque sabe que não tem alcance vocal, abusa do canto com o tórax para trazer dinâmica a canções que exigem, como o sertanejo tema de novela “Sinônimos” –que se beneficiaria de uma audácia, uma sujeira.

Mais do que a postura de adolescente rebelde, é a busca pelo novo que areja o show. Mas até esse novo vem amarrado. “Passar dos Danos” é um exemplo evidente dessa intenção. Os riffs poderosos e a progressão do teclado oitentista ecoam produções atuais, de Harry Styles a The Weeknd, e por isso mesmo soa como uma cópia da cópia, a nostalgia da saudade, um JPEG replicado à exaustão pela operação printscreen.

“Gatilho” também não oferece risco. A guitarra funkeada e a bateria feita para break funcionaria se não soassem como uma réplica do pop atual. Funciona no show, faz valer a convocação do artista a um palco desse quilate, mas não falta substância para garantir um lugar no imaginário do pop –como aquele ocupado pelo irmão da Sandy.

Esse lugar, de fato, segue inconteste. Júnior levanta o público com “Cai a Chuva” no fim do show. Pouco tempo antes, em “Super-Heroi”, faixa de 2008 que marcou o início dos voos de Junior como ídolo juvenil, o artista cantou de mãos dadas com uma fã e encheu o coração das outras –ao contrário dele, eternas adolescentes.