SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Péricles foi ovacionado antes mesmo de cantar a terceira música em seu show no The Town. O cantor foi uma das atrações do começo da noite deste sábado (13), no palco Quebrada, terceiro em tamanho e importância de todo o festival.

O The Town começou na semana passada e dura até o próximo domingo (14), no Autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo.

Péricles começou a todo vapor. Emendou “Até que Durou” e “É no Pagode”, botando a plateia para cantar com dois sucessos do pagode. Quando foi se dirigir ao público, o espaço já estava cheio, com as milhares de pessoas aplaudindo o artista.

“Esperei muito tempo por esse momento e sei que vocês também”, ele disse. Se referiu ao show como “uma oportunidade única de compartilhar essa emoção”, e ouviu de volta gritos do público de “uh, é Pericão”.

Péricles provavelmente se referiu ao fato de o samba ter pouco espaço nos eventos da Rock World –produtora que além do The Town faz também o Rock in Rio. É algo que tem mudado nos últimos anos, com a presença de artistas do gênero nos eventos –no domingo, Belo é um dos escalados–, ainda que geralmente em palcos laterais, como o Quebrada, em São Paulo, e o Favela, no Rio de Janeiro.

Mesmo que o som não estivesse nas melhores condições, Péricles honrou o nome do espaço. Nascido em Santo André, no ABC paulista, o sambista afirmou estar em casa e homenageou Arlindo Cruz, morto no mês passado, puxando “Favela”.

O show tinha uma proposta inusitada –unir o samba ao rap, a partir da participação de Dexter. Entidade do gênero no Brasil, em especial da cena paulistana, o rapper entrou cantando “Me Perdoa”, número emocionante em que ele pede desculpas à mãe, com refrão cantado por Péricles.

Mas a emoção veio à tona mesmo na sequência. Integrante da dupla 509-E, seminal no rap nacional, Dexter despontou para a música quando estava preso no Complexo Penitenciário do Carandiru, a partir da ajuda de Mano Brown e dos Racionais MCs.

Com Péricles, ele puxou dois clássicos da dupla dessa época, “Saudades Mil” e “Oitavo Anjo”, com o público paulistano ajudando o rapper a terminar os versos. Além do forte teor sentimental e social das rimas, a voz doce do sambista encaixou inesperadamente bem nos refrões, gerando um dos melhores momentos do palco Quebrada –e de todo o festival.

Dexter ainda cantou “Eu Sou Função” e um trecho de “Voz Ativa”, dos Racionais, antes de homenagear ícones negros como Malcom X, Luiz Gama e Marielle Franco. Ele ainda engrossou o caldo em “Maneiras”, samba puxado por Péricles.

Nessa transição nada suave de rap anos 1990 para pagode, o sambista lembrou os tempos de Exaltasamba com “Falando Segredo”, que botou o público novamente para se mexer. Assim ele seguiu, com um cover de “Stand by Me”, o sucesso “Fim de Tarde” e por aí vai.

Mais que um simples show de Péricles incrementado por Dexter, a apresentação foi um dos raros momentos em que o palco Quebrada foi além de um espaço isolado, no canto do Autódromo. A obra dos dois protagonistas é ambientada e dialoga diretamente com a periferia –a cola para que o encontro fizesse sentido.

Também jogou luz na convergência estética do pagode com o rap. Isso porque a voz romântica de Péricles, apesar de aplicada numa base de samba, remete ao soul e R&B americanos –a música romântica daquela parte do mundo.

São também esses gêneros, negros por excelência, que municiaram os DJs de rap nos samples sobre os quais os MCs construíram suas rimas, a base desse estilo musical. Faz sentido –mais do que parecia em um primeiro momento– ouvir Péricles entoando os refrões dos raps de Dexter.

A reta final era jogo ganho. Péricles botou a plateia para berrar com “Melhor Eu Ir”, um de seus maiores hits, voltou a evocar o Exaltasamba com “Jogo de Sedução” e fez o público pular abraçado com uma versão em pagode de “Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)”, clássico de Tim Maia –e do soul brasileiro.

Também teve seu nome gritado outras duas vezes antes de deixar o palco, distribuindo beijos para os fãs.