BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Bastaram 11 minutos de bilheterias abertas para que 600 ingressos gratuitos para ver o espetáculo “Os Irmãos Karamázov”, estrelado e dirigido por Caio Blat, um dos destaques do festival inclusivo AcessaBH, em Belo Horizonte, nesta sexta-feira (12), estivessem esgotados.

Com as atrizes Juliete Viana e Maria Luiza Aquino caracterizas e atuando ao mesmo tempo que faziam a tradução da peça em Libras, a Língua Brasileira de Sinais, e o restante do elenco, em frases marcantes, também utilizando sinais, as quase duas horas do denso drama de Dostoiévski foram ovacionadas pelo público que lotou o Centro Cultural Unimed – BH Minas.

Diferentemente de outros eventos artísticos, todos os locais reservados para cadeirantes estavam ocupados. Pessoas cegas, surdas e neurodivergentes eram vistas em vários pontos, inclusive na fila do lado de fora, e muitas não conseguiram entrar.

“Inclusão é um direito que vem sido cumprido, em partes. Trouxemos a acessibilidade para dentro da encenação, não no canto do palco, como um acessório. Temos uma cena toda em Libras, então, temos um espetáculo bilíngue, numa experiência bem radical, com a qual aprendemos muito”, afirma Blat.

O público com deficiência também teve à disposição, como em todos os eventos do AcessaBH, redutores de ruído, dispositivos para receber a audiodescrição do espetáculo e pranchas de comunicação alternativa aumentativa –recurso com símbolos, imagens ou palavras para ajudar pessoas com dificuldades na fala.

“Foi emocionante para a gente ver a plateia lotada, com um enorme número de pessoas com diversas deficiências que vieram falar com a gente no final. Poder trazer esse espetáculo gratuitamente é uma iniciativa incrível que precisa se espalhar pelo país”, conta o ator.

No hall do centro cultural, um livro em tecido, com frases ditas durante a peça, materiais cênicos e detalhes dos figurinos estava exposto para quem quisesse tocar e também para ampliar as informações para cegos e pessoas com baixa visão.

“A arte tem de ser cada vez mais inclusiva e cada vez se abrir mais para todos os públicos. É preciso pensar nos acessos físicos para que as pessoas consigam chegar também. Os artistas devem começar a pensar em trazer mais imagens, sons e acessibilidade para dentro do espetáculo”, diz o ator.

O AcessaBH, que vai até o final de setembro e está em sua quinta edição, conta com espetáculos teatrais, performances, shows, exibições audiovisuais, oficinas, bate-papos e lançamento de livros, com artistas de nove estados do país e uma participação do Reino Unido. O espírito da iniciativa é a valorização da chamada cultura def.

“Estamos superfelizes com os resultados, com casa cheia em todas as programações, que foram muito diversificadas. A gente percebe que o evento mantém um público cativo, mas também um público crescente, principalmente de pessoas com deficiência que, para nós, é muito importante”, diz Lais Vitral, uma das curadoras e idealizadoras do evento.

HERMETO CANCELA PARTICIPAÇÃO

O compositor, arranjador e multi-instrumentista Hermeto Pascoal, 89, que deveria se apresentar nesta sábado (13) no AcessaBH, cancelou sua participação. Ele será substituído por Nivaldo Ornelas, compositor, arranjador, fundador do Berimbau Jazz Clube, artista do Clube da Esquina e primeiro saxofonista a tocar com Hermeto nos anos 1970.

De acordo com a organização do evento, Hermeto teve um problema de saúde na volta de uma turnê pela Europa e foi internado para acompanhamento, no Rio.

O show segue confirmado com o grupo Nave Mãe, às 20h, no Teatro do Centro Cultural Unimed — BH Minas, com a participação de Nivaldo.