SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A viúva do influenciador trumpista Charlie Kirk, a empresária Erika Kirk, fez nesta sexta-feira (12) seu primeiro pronunciamento após o assassinato do marido, morto por um atirador na última quarta (10) na Universidade do Vale do Utah.

“Eu gostava muito de saber que um de seus lemas era: nunca se renda. Nós nunca nos renderemos”, disse Erika, prometendo que a mensagem e a missão de seu marido serão agora “maiores, mais ousadas, mais fortes e mais poderosas do que nunca”. “Meu lamento ecoará em todo o mundo como um grito de guerra”, afirmou a empresária, que teve dois filhos com o ativista de direita. Erika disse que o tour que seu marido fazia pelas universidades dos EUA quando foi morto vai continuar em sua homenagem.

Kirk, aliado importante do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, era fundador da organização da juventude de direita nos EUA Turning Point USA. Ele tinha como principal atividade visitar campi pelo país com o objetivo de debater com universitários de esquerda temas como racismo, criminalidade, direitos LGBTQIA+, feminismo, aborto e religião e publicar os vídeos dos embates na internet, que frequentemente atingiam centenas de milhares de visualizações.

As posições extremistas de Kirk atraíam fortes críticas da esquerda. O influenciador já disse, por exemplo, que o conceito de privilégio branco “é uma ideia racista” e afirmou concordar com a teoria da conspiração da grande substituição, segundo a qual elites apoiariam a imigração para os EUA e Europa como forma de eliminar a população branca. “A grande substituição não é uma teoria, é a realidade”, escreveu em 2024. Também já disse que pessoas negras que utilizam ações afirmativas não têm a mesma capacidade mental de pessoas brancas.

Em 2023, Kirk havia dito em evento que “vale a pena pagar o preço, infelizmente, de algumas mortes por tiroteio todos os anos para que possamos ter a segunda emenda [que garante o direito ao armamento nos EUA]”.

“Em um mundo cheio de caos, dúvida e incerteza, a voz do meu marido vai perdurar e ecoar mais forte e clara do que antes. Sua sabedoria vai permanecer”, prosseguiu Erika em vídeo gravado na sede da Turning Point USA. “Charlie foi morto porque falava em patriotismo, fé, e no amor misericordioso de Deus.”

“Os malfeitores responsáveis pelo assassinato do meu marido não têm ideia do que fizeram”, disse Erika. “Eles deveriam entender o seguinte: se você achava que a missão de meu marido era poderosa antes, vocês não têm ideia do que você desencadeou no país e no mundo.” Segundo as autoridades policiais americanas, o homem suspeito de matar Kirk, Tyler Robinson, de 22 anos, provavelmente agiu soznho.

Erika também usou o pronunciamento para agradecer Trump. “Senhor presidente, meu marido amava o senhor e eu sei que o senhor também o amava. A amizade de vocês era incrível.” Em seguida, a empresária falou sobre os valores cristãos de Kirk, cujo objetivo central seria “reviver a família americana” e incentivas jovens a terem filhos. “Sua luta não era política, era espiritual.”

Na sexta, Trump voltou a culpar a esquerda pela morte de Kirk e justificou o radicalismo da direita. “Os radicais na direita muitas vezes só são radicais porque não querem ver crimes”, disse o presidente em entrevista na emissora conservadora Fox News.

“Eles estão preocupados com a fronteira, eles não querem toda essa gente entrando e queimando nossos shoppings. Não querem que eles atirem no nosso povo no meio da rua”, disse o presidente, sem esclarecer a que incidentes se referia. “O problema são os radicais da esquerda. Eles são cruéis e terríveis e politicamente astutos, porque embora digam que querem esportes para homens e mulheres, na verdade querem transgêneros para todo mundo, querem fronteiras abertas.”

Aliados de Trump intensificaram uma campanha online para expor pessoas que fizeram piada ou celebraram a morte de Kirk. Segundo um levantamento da agência de notícias Reuters, pelo menos 13 pessoas nos EUA, incluindo professores e jornalistas, já perderam o emprego depois que influenciadores de direita denunciaram suas reações ao assassinato.

Alguns republicanos, como a influente ativista trumpista Laura Loomer, pedem que a Casa Branca deporte imigrantes que criticarem Kirk ou processe americanos que fizerem o mesmo. “Se prepare para ter todo o seu futuro profissional destruído se você for doente o bastante para celebrar a morte de Charlie”, disse Loomer no X.

Newsletter Lá Fora Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo *** O vice-secretário de Estado, Christopher Landau, disse na quinta (11) que Washington pode tomar medidas contra estrangeiros que estejam “elogiando, racionalizando ou fazendo pouco caso” do assassinato. Segundo ele, funcionários consulares receberam instruções para tomarem medidas apropriadas.

“À luz do horrível assassinato de uma importante figura política ocorrido ontem, quero enfatizar que estrangeiros que glorificam a violência e o ódio não são visitantes bem-vindos em nosso país”, escreveu Landau em uma publicação na rede social X.

Um site recém-registrado chamado “Expose Charlie’s Murderers” (Exponha os assassinos de Charlie) reúne nomes de 41 pessoas, a maioria sem perfil público, que supostamente “apoiam a violência política online” com o objetivo de fazer com que quem celebrou ou relativizou a morte de Kirk sofra consequências profissionais. O site inclui nome completo e cidade onde moram e afirma estar analisando mais de 30 mil denúncias. “Essa é a maior operação de demissões da história”, diz.

As publicações reunidas no site incluem pessoas comemorando o assassinato, mas também publicações que se tratam apenas de críticas ao influenciador trumpista e a suas falas, consideradas por críticos racistas e machistas.