SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O avião cargueiro que se tornou um dos símbolos das enchentes no Rio Grande do Sul no ano passado, vai, literalmente, virar peça de museu nos próximos dias.
O histórico Boeing B727-2M7, de prefixo PR-TTP, foi doado pela Total Linhas Aéreas ao Museu Militar Brasileiro, localizado na cidade de Panambi (RS).
A aeronave, que não tem mais condições de voar por causa do período em que ficou na água, fazia parte da frota de três Boeing 727 da Total. Os outros dois foram vendidos pela companhia aérea, que renovou sua frota com modelos 737-400F, mais modernos.
Aviões comerciais que estavam no pátio do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, foram retirados a tempo para evitar a inundação do início de maio de 2024, menos o 727 que ficou no meio do aguaceiro -a água chegou a cobrir os trens de pouso e ficar junto às asas, como se a aeronave estivesse boiando.
Aviões menores, que estavam em outro ponto do aeroporto, também ficaram em parte embaixo d´água.
Em julho do ano passado, quando a água já havia baixado, o cargueiro foi levado para outro lugar do aeroporto. Era possível vê-lo em um canto próximo à pista, da janela de aviões que desciam ou decolavam da local -as operações no Salgado Filho voltaram em 21 de outubro, depois de 171 dias fechado.
Quando a aeronave foi transferida de lugar, a companhia aérea estava à espera de uma vistoria da Boeing, que não quis comentar o caso na época.
“Vislumbramos uma brilhante oportunidade para manter viva a história desta icônica aeronave chamada de ‘Cadillac dos céus'”, diz a Total, em nota à Folha de S.Paulo.
O Boeing, que começou a ser fabricado na década de 1960, é considerado um avião raro, com barulho inconfundível, graças aos seus três motores, cujas turbinas ficam junto à cauda e não embaixo das asas, como ocorre normalmente com os jatos atuais.
No Museu Militar Brasileiro, a ideia, a princípio, é transformar o 727 em um restaurante temático, como afirmou a instituição do interior gaúcho. Mas isso ainda não está definido.
Fundado em 18 de novembro de 2009 e aberto ao público para visitação em fevereiro de 2011, o museu de Panambi, município distante mais de 400 km da capital Porto Alegre, tem outros aviões em seu acervo, como dois Boeing 737 -em um deles funciona uma sala de cinema e uma biblioteca, e o outro está em uma sala de exposição de artefatos históricos.
O museu ainda conta com vários veículos militares, inclusive uma viatura blindada M4, uma espécie de tanque de guerra.
O transporte do 727 será de responsabilidade do museu, segundo a Total. A logística da operação ainda depende de autorizações, tanto para a liberação do aeroporto quanto para o deslocamento por rodovias.
O avião será levado em partes. O seu charuto, ou seja, a fuselagem, que mede cerca de 41 metros de comprimento, irá numa única carreta. Outros caminhões levarão as asas.
De acordo a Total, por contrato, o desmonte da aeronave, no Salgado Filho, também ficará por conta do museu. A retirada das asas deve acontecer nos próximos dias, conforme a companhia aérea.
A instrumentação de voo, unidades elétricas, hidráulicas e pneumáticas foram removidas pela equipe da empresa em Porto Alegre, bem como os três motores do jato.