SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A bolha cinéfila brasileira foi tomada por uma disputa acirrada nos últimos dias, que opôs dois dos seis finalistas para tentar uma vaga ao Oscar de melhor filme internacional do ano que vem. De um lado está “Manas”, de Marianna Brennand, e de outro, “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, tido como franco favorito e uma escolha óbvia até a semana passada.
Nas redes sociais, cinéfilos vêm defendendo um ou outro título de forma apaixonada, enquanto os cineastas também promovem campanhas incisivas. “Único dos seis finalistas dirigidos por uma mulher”, diz uma publicação do Instagram de “Manas”, seguida por vídeos de celebridades comentando a força do filme e de seu tema, o abuso de menores.
“Variety aposta em ‘O Agente Secreto’ para o Oscar 2026 em melhor filme internacional, melhor ator, melhor filme e melhor roteiro original”, diz um post do segundo, que usa como munição o endosso da imprensa estrangeira e os prêmios vencidos por Mendonça Filho, como os de direção e ator, para Wagner Moura, no Festival de Cannes.
Além dos dois, também estão na disputa pela indicação da Academia Brasileira de Cinema “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro; “Baby”, de Marcelo Caetano; “Kasa Branca”, de Luciano Vidigal, e “Oeste Outra Vez”, de Erico Rassi. A escolha será anunciada na manhã desta segunda-feira (15).
Os ânimos estão tão exaltados -não se via uma disputa com títulos tão fortes desde que “Bacurau”, também de Mendonça Filho, foi preterido por “A Vida Invisível”, de Karim Aïnouz, há seis anos- que o órgão anunciou uma coletiva de imprensa na sequência do anúncio, o que não é comum. Os nomes da comitiva responsável por bater o martelo serão anunciados na ocasião, seguindo regras do próprio Oscar.
Desde que a lista de filmes brasileiros a serem contemplados pelo comitê enxugou de 16 para 6, na segunda passada, “Manas”, até então com uma campanha tímida, ganhou vida. Agora, parece se ancorar na carga política que escolhê-lo teria, enquanto “O Agente Secreto” segue uma linha mais pragmática.
Também conta a favor do primeiro a entrada de Sean Penn como produtor executivo. Vale dizer, porém, que o segundo tem o próprio Mendonça Filho e Moura, já bem conhecidos no circuito de festivais e na indústria americana, respectivamente, como garotos-propaganda. Walter Salles, de “Ainda Estou Aqui”, entrou na roda, e vai apresentar uma sessão do filme no Museu da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, lar do Oscar.
Além disso, “O Agente Secreto” tem distribuição, lá fora, da Neon, responsável pelo grande vencedor do Oscar do ano passado, “Anora”, e dona de outros importantes postulantes à estatueta de filme internacional, “Foi Apenas um Acidente”, de Jafar Panahi, e “Sentimental Value”, de Joachim Trier.
Sua campanha pelo Oscar, é seguro dizer, começou já em maio, no rescaldo do Festival de Cannes, de forma mais orgânica, enquanto “Manas” é um fenômeno um tanto inesperado e bem mais recente, mas que conta com um apoio financeiro robusto para apresentar o filme no exterior.
Cerca de 70 empresas -a maioria sem qualquer relação com o audiovisual ou o campo da cultura-, aliás, assinaram, no começo da semana, uma carta de apoio à indicação de “Manas”, com base em seu compromisso com o combate ao abuso sexual de menores de idade.
“Acreditamos que levar essa história ao Oscar vai além de um reconhecimento artístico e cultural para o cinema brasileiro. É uma oportunidade de amplificar as vozes de meninas e mulheres que, por tanto tempo, foram invisibilizadas”, diz a carta, assinada por nomes ligados a empresas como a Vale e às da própria família Brennand, que atua nos setores imobiliário e energético.
Segundo apuração da reportagem, apesar do clima de cordialidade entre os diretores, demonstrado em bate-papo virtual com todos os cineasta pré-selecionados nesta sexta-feira, a avaliação é de que a disputa vem gerando desconforto dentro da Academia Brasileira de Cinema e entre as equipes dos filmes.
Bárbara Paz, que exerce cargo de diretora secretária na instituição responsável pela escolha, por exemplo, foi criticada por internautas e membros da indústria por aplaudir, com emojis, um post da campanha de “Manas” pela indicação.
Já Fernanda Torres elogiou o longa em seu Instagram, citando a presença de Sean Penn também entre aqueles que apoiaram “Ain da Estou Aqui” na campanha pelo Oscar brasileiro. A seção de comentários logo virou campo de batalha e, duas horas depois, ela compartilhou também o trailer de “O Agente Secreto”. Um pouco mais tarde, foi a vez de “O Último Azul”.