BELÉM DO SÃO FRANCISCO, PE (FOLHAPRESS) – Alícia Valentina, a menina de 11 anos que morreu após ser agredida por ao menos um colega de sua escola, é lembrada como doce e educada. Na rua onde vivia, em Belém do São Francisco, no sertão de Pernambuco, vizinhos contam que ela costumava abraçar e pedir bênção quando passava.
Para ir e voltar da escola, fazia sempre o mesmo caminho e cruzava com as vizinhas Lucimeire Rita de Araújo, 49, e Maria Eliane Silva, 50, a quem perguntava se precisavam de algo e sempre desejava bom dia.
Uma amiga da família, que pediu para não ser identificada, contou que a menina costumava ir a sua casa, onde brincava com os filhos pequenos, gravava vídeos e assistia à TV.
A alegria e a tranquilidade de Alícia são lembradas pela mãe, Ana Vilka Lima, 53. Ela afirma que a filha não costumava dar trabalho, tampouco se queixava de colegas na escola. Também nunca relatou problemas de convivência na instituição em que estudava.
Alícia tinha uma irmã gêmea. A mãe trabalha como cozinheira, e a tia, Ana Virgínia Lima de Aguiar, costumava ajudar a cuidar das meninas. Ela conta que Alícia estava nas aulas de catequese e que faria a primeira comunhão no ano que vem.
Uma das professoras, que também pediu anonimato, contou que a semelhança com a irmã às vezes a confundia em sala de aula. Quando uma delas pedia para ir ao banheiro, não conseguia saber qual das duas era. Ela também recorda que, além da semelhança, a parceria entre as gêmeas era visível para todos.
A semelhança entre as duas não confundia apenas na escola, mas também na vizinhança. Alguns diziam que a única forma de diferenciá-las era observar uma mancha na perna que uma tinha e a outra não.
Mesmo tão jovem, Alícia sonhava em ser modelo e gostava de andar sempre bem arrumada. Magra e alta, caminhava com a irmã pelas ruas sempre com os cabelos penteados.
As vizinhas contam que costumavam brincar com elas: “Aonde as paquitas da Xuxa vão?”. “Chamávamos as duas de ‘paquitas da Xuxa’ porque não conseguíamos identificar quem era quem, e elas riam muito”, lembra Maria Eliane.
A tristeza, porém, é unânime quando falam da morte precoce da menina. Uma das vizinhas afirma que ninguém tem o direito de “tirar a vida de ninguém”. “Se fosse Deus que tivesse levado, estaríamos conformados. Mas assim ninguém se conforma”, diz Lucimeire.
A escola, que ficou três dias de luto, retomou as atividades nesta quinta-feira. Na entrada, uma faixa preta foi erguida em homenagem a Alícia. Segundo relatos, a irmã voltou a se encontrar com amigos da rua e passou a chamar Alícia de “estrelinha”.