SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil da Bahia prendeu nesta sexta-feira (12) em Simões Filho, na Grande Salvador, um dos acusados do assassinato da ialorixá e líder quilombola Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete

Josevan Dionísio dos Santos, conhecido como BZ, era um dos dois foragidos entre os cinco denunciados por participação da morte da líder religiosa. Ele é apontado com um dos executores do assassinato de Bernardete, atingida por 25 tiros na noite de 17 de agosto de 2023 no Quilombo Pitanga dos Palmares.

O acusado foi detido após cumprimento de mandados de prisão e de busca e apreensão pela Polícia Civil. Houve resistência e Josevan chegou a manter a companheira e os dois filhos como reféns, mas se entregou após negociação com a polícia. Uma pistola foi apreendida no local.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa do preso.

Em novembro de 2023 o Ministério Público do Estado da Bahia ofereceu denúncia contra cinco pessoas suspeitas de participação na morte de Mãe Bernadete.

Arielson da Conceição Santos, Josevan Dionísio dos Santos, Marílio dos Santos, Ydney Carlos dos Santos de Jesus, Sérgio Ferreira de Jesus foram denunciados por suspeita de homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, com uso de arma de fogo e sem chance de defesa da vítima.

Arielson e Sérgio já haviam sido presos pela Polícia Civil em setembro de 2023 e Ydney foi detido em julho de 2024. Com a prisão de Josevan, o único acusado pelo crime que segue foragido é Marílio dos Santos, conhecido como Maquinista.

A investigação apontou que Mãe Bernadete lutava contra a instalação de um bar chamado Pitanga Point, erguido por traficantes para realização de festas. A barraca estava sendo construída nas margens de uma represa em uma área de preservação permanente.

De acordo com os investigadores, Sérgio Ferreira enviou áudios aos líderes do tráfico informando que a líder quilombola teria acionado a polícia para impedir instalação do bar dentro da área de preservação.

Depois disso, apontam os investigadores, a morte da líder quilombola teria sido ordenada por Marílio dos Santos com o apoio de Ydney Carlos dos Santos de Jesus, ambos apontados como líderes do tráfico de drogas na região do quilombo Pitanga dos Palmares.

O crime teria sido executado por Arielson da Conceição Santos e Josevan Dionísio dos Santos, ambos ligados à mesma facção criminosa. Eles chegaram na comunidade a pé, entraram na casa da ialorixá e a mataram com 25 tiros. Também roubaram cinco telefones celulares que estavam no imóvel.

Bernadete Pacífico era coordenadora nacional da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos) e liderava o Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho. Trabalhava havia anos denunciando a violência contra a população quilombola e as tentativas de tomada das terras.

Após o assassinato de seu filho Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, em 2017, a luta contra ataques a terreiros e assassinatos de lideranças religiosas de matriz africana se intensificou. Conhecido como Binho do Quilombo, ele era um dos líderes quilombolas mais respeitados da Bahia.

Outro filho de Mãe Bernadete, Jurandir Wellington Pacífico, afirmou que ela recebia ameaças havia pelo menos seis anos.

A líder quilombola estava junto dos netos quando dois homens chegaram usando capacetes e abordaram a família. Os netos foram trancados em um quarto, e Mãe Bernadete foi morta.

Ela já havia recebido ameaças e fazia parte de um programa de proteção a defensores de direitos humanos do Governo na Bahia. Câmeras foram instaladas na sua casa e no entorno, e policiais faziam visitas periódicas ao local, mas não havia uma vigilância constante.

Em novembro de 2024, o presidente Lula (PT) assinou o decreto de declaração de interesse social do Quilombo Pitanga de Palmares, em Simões Filho.