Da Redação
A proposta de anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro segue sem previsão de avanço na Câmara dos Deputados. O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), afastou qualquer expectativa imediata ao afirmar que não há data para escolha de relator nem inclusão em pauta.
A posição freou os planos do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, que queria definir o relator ainda nesta semana. Apesar da frustração, não houve reação brusca. Nos bastidores, a legenda prefere aguardar o desfecho do julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), avaliado como ponto de inflexão para retomar a pressão política.
Apoio da oposição
Entre os principais defensores da anistia, o líder da oposição, deputado Zucco (PL-RS), avalia que a medida ganhou força nas últimas semanas. Ele cita a saída de PP e União Brasil da base governista, as manifestações de 7 de Setembro e críticas de ministros do STF como fatores que fortalecem a pauta. Para Zucco, o objetivo é corrigir o que chama de “abusos processuais” e pacificar o país.
Segundo ele, milhares de pessoas foram tratadas como criminosas apenas por se manifestarem ou acamparem. “Não se trata de crime contra a democracia, mas de episódios que devem ser responsabilizados em instâncias adequadas. A anistia é necessária para restaurar o Estado de Direito”, afirmou.
Resistência governista
Na base do governo, a reação é oposta. A deputada Adriana Accorsi (PT) foi direta ao rejeitar a proposta. O Palácio do Planalto trabalha para manter o tema fora da agenda legislativa, e a ministra Gleisi Hoffmann cobrou apoio de líderes do Centrão para barrar qualquer tentativa de avanço.
Enquanto isso, a prioridade do Executivo é a Medida Provisória do Setor Elétrico, que prevê redução na conta de energia. O presidente da Câmara disse esperar votar o texto ainda esta semana, após ajustes no relatório.
Movimentação nos bastidores
Sem espaço imediato para a anistia, o PL aposta em manter o debate público vivo, reforçando paralelos com a Lei de 1979, que beneficiou tanto opositores quanto agentes da ditadura militar. A legenda pretende apresentar a proposta como um gesto de pacificação nacional.
Hugo Motta, no entanto, insiste na cautela: “Qualquer deliberação precisa de consenso entre os líderes”, frisou. Até que esse cenário se desenhe, o futuro da anistia permanece incerto — e diretamente ligado ao desfecho do processo de Bolsonaro no STF.