SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Se tem o Bobbie Goods, com os livros de colorir que viraram febre nacional, por que não o Smilingoods? Por R$ 39,90, é possível levar para casa uma versão adaptada desses álbuns, agora com salmos bíblicos e desenhos do Smilinguido, a formiguinha cristã que marcou gerações de fiéis.

A marca, de volta à ExpoCristã pela primeira vez desde a pandemia de Covid-19, é uma das que buscam se atualizar para caber na arca do consumo evangélico. A feira começou nesta quinta (11), em São Paulo, e reunirá até terça (16) editoras, gravadoras, livrarias, marcas de moda, grupos educacionais e startups de tecnologia que miram esse mercado milionário.

Grandes artistas do gospel, como Aline Barros, Isadora Pompeo e Thalles Roberto, vão cantar no Bem Festival, que acontece dentro do evento gratuito.

A ExpoCristã funciona como um GPS do que passa pela cabeça do público evangélico. Do estande que promete facilitar a vida dos que querem migrar para os Estados Unidos à arena dedicada ao empreendedor cristão, dá para rastrear tendências que entrelaçam negócios.

Aline Rodrigues, fiel da carioca Comunidade Evangélica do Sobrenatural de Deus, montou um negócio próprio especializado em mascotes de pelúcia, daqueles que a pessoa veste para divulgar um serviço.

A Fábrica de Bonecos oferece produtos que vão de R$ 700 a R$ 2.000. Rodrigues convocou funcionários a vestir os mascotes Bíblia Sagrada e Coração para circular pelo pavilhão, divulgando a marca.

Ela não atende só o segmento religioso. Inclusive, as demandas mais exóticas que já recebeu dificilmente partiriam desse público: um bonecão peludo nas formas de vibrador e vulva.

A editora Lion, que fechou parceria com a trupe do Smilinguido para lançar o Smilingoods, tem outros produtos que miram o consumidor mirim. A Turma da Mônica já tinha uma linha com gibis de temática espírita, como a historinha em que Chico Bento perde uma irmã bebê, que vira estrelinha e não deixa de se comunicar com a família depois de morrer. Agora, há licenciamento para mercadorias de pegada evangélica, como HQs devocionais e uma Bíblia com a turminha do fictício bairro do Limoeiro.

Referências do meio, como a Igreja Universal do Reino de Deus e o pastor Silas Malafaia, por meio de sua editora Central Gospel, também estão na feira. O custo fica em torno de R$ 750 pelo metro quadrado dos espaços alugados, segundo expositores.

A igreja do bispo Edir Macedo fez propaganda da UniverVídeo, uma espécie de Netflix com conteúdo cristão. Os planos começam a partir de R$ 0,90 por dia e propõem que o espectador “dê o play sem medo de se surpreender com cenas inadequadas, de não encontrar um ambiente saudável para sua família ou até mesmo de assistir ao que não acrescenta em sua vida pessoal e espiritual”.

Tem oferta para o fiel no varejo, mas também pacotes de olho nas igrejas. A Stabilis, por exemplo, é uma empresa de contabilidade que foi à ExpoCristã vender seu peixe cristão.

Pequenos templos são um cliente em potencial, segundo Thiago Lima, à frente da equipe. “Tem muita igrejinha que às vezes começa ali no bairro, abre ali uma portinha numa garagem, aí às vezes acaba crescendo de forma irregular.”

Entre os serviços prestados estão a regularização da igreja, que dá um CNPJ a esses templos e a possibilidade de pedir isenção de impostos variados, e a terceirização das tesourarias, “evitando até mesmo o desvio de recursos, o que infelizmente acontece”.

Esse aí é o pessoal de exatas na feira. No estande vizinho está a galera de humanas: a companhia de teatro Semear, que comercializa cursos na modalidade EAD (ensino a distância) para igrejas.

A ideia, segundo Rogério Campos, responsável pelo grupo, é capacitar o povo de fé no ofício artístico. A colheita vem sobretudo na temporada da Páscoa. “Temos um trabalho muito forte na Semana Santa. Fazemos ‘A Paixão de Cristo’, né?” Temporada anual garantida.