BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Após o STF (Supremo Tribunal Federal) formar maioria para condenar Jair Bolsonaro (PL) por todos os crimes na trama golpista, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse que o pai está firme e de cabeça erguida, após visitá-lo em casa, onde cumpre prisão domiciliar.

O parlamentar, principal porta-voz de Bolsonaro no mundo político desde que ficou recluso em 4 de agosto, fez a jornalistas na porta do condomínio uma fala em defesa da anistia ampla, que contemple o pai, e defendeu união da direita para derrotar Lula (PT) em 2026.

“A mensagem dele para toda população: brasileiros e patriotas, nós não vamos desistir do nosso Brasil. Presidente Bolsonaro está firme, forte, de cabeça erguida para encarar de frente essa perseguição, porque a história vai mostrar que nós estamos do lado certo”, disse Flávio.

“Vamos agora, com todas as forças, unir no Parlamento, que é quem tem competência para promover pacificação desse país e fazer anistia, ampla, geral e irrestrita para todos, incluindo Jair Bolsonaro. Anistia criminal, administrativa e eleitoral, toda”, afirmou o senador.

“Única certeza que temos é que Lula não vai ser presidente em 2027, porque a direita vai estar mais unida do que nunca, para resgatar o Brasil das mãos dessa quadrilha”, completou.

A fala do senador foi a primeira no tom de indicar um futuro para a direita, atordoada após a condenação do ex-presidente a 27 anos e três meses. A mensagem de firmeza também contrasta com os relatos de suposta fragilidade no quadro de saúde de Bolsonaro.

Mais cedo, a oposição na Câmara dos Deputados divulgou nota em que classificou julgamento como político e defendeu anistia, assim como o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), e o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN).

Antes, nas redes sociais, Flávio também falou em “suprema perseguição” para se referir ao julgamento da trama golpista no STF.

A expressão utilizada pelo senador está sendo replicada pelos bolsonaristas nas redes sociais em defesa do ex-presidente, cuja pena pode chegar a mais de 40 anos. A maioria na Primeira Turma do STF foi atingida com o voto de Cármen Lúcia, e Cristiano Zanin ampliou para 4 a 1 o placar pela condenação.

“A pretexto de defender a democracia, os pilares da democracia foram quebrados para condenar um inocente que ousou não se curvar a um ditador chamado Alexandre de Moraes”, disse Flávio no X, em referência ao ministro do STF relator do caso.

Flávio passou o dia no Senado e, depois de formada a maioria na corte, seguiu para casa do pai, no Jardim Botânico, em Brasília.

“Chamam de julgamento um processo que todos já sabiam o resultado antes mesmo de ele começar. Não pelo que viria a ser produzido nos autos, mas por quem iria julgar. A isso chamam de defesa da democracia. Não, isso é defesa da supremacia”, afirmou também.

Parlamentares e apoiadores do ex-presidente compartilharam nas redes fotos e publicações em apoio a ele também com os dizeres “querem matar Bolsonaro”. O próprio ex-presidente levantava a possibilidade de que morreria numa eventual prisão, diante do seu quadro de saúde.

A tese é propalada por seus aliados. Em entrevista à Folha de S.Paulo na semana passada, o presidente do PP e senador, Ciro Nogueira (PP-PI), disse que, se o Supremo o colocasse na cadeia, “é porque querem matar o Bolsonaro”.

O argumento de saúde é o utilizado pela senadora e ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, para defender que o ex-presidente permaneça em prisão domiciliar.

“Aquele intestino só funciona com remédios que são tomados na hora certa. (…) Você acha que lá no presídio alguém vai lembrá-lo da hora do remédio? Um senhor de 70 anos, como o Bolsonaro, é extremamente distraído. Vocês sabem disso”, disse a jornalistas no Senado.

A senadora disse também que Damares banalizou o crime de golpe de Estado. “É tudo ilação. Banalizaram o que é golpe de Estado no Brasil. A partir de agora tudo vai ser golpe. Um crime tão grave. A Suprema Corte banalizou o crime de golpe de Estado”, disse.

É a primeira vez na história do país que um ex-presidente é punido por esse crime. Ele é acusado de liderar a trama golpista em 2022, ao não aceitar a derrota na eleição.

O líder da oposição na Câmara, Zucco (PL-RS), classificou o julgamento como “político”, em nota divulgada logo após a formação da maioria no Supremo. O deputado também exaltou o voto do ministro Luiz Fux, único da turma até o momento a divergir de Moraes e eximir Bolsonaro de qualquer crime.

Zucco acompanhou o julgamento de dentro do plenário da Primeira Turma em Brasília e falou com jornalistas no local. Ele disse que a condenação fortalecerá a defesa a anistia a condenados no 8 de janeiro no Congresso Nacional, que deve beneficiá-lo.

“Isso só nos fortalece. Estamos trabalhando a pauta da anistia com muita tranquilidade e muita firmeza em diálogos com líderes de outros partidos”, disse Zucco.

Embora a maioria já esteja formada no STF, só depois do último voto a condenação é confirmada -até lá é possível, embora raro, haver mudança de entendimento dos ministros.

O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), disse que Bolsonaro e seus aliados estão preparados para o “pior cenário”, que seria a ida dele para a Papuda. Isso ocorreria, de acordo com ele, porque é perseguido pela corte.

Ele afirmou também que seguirão trabalhando pelo projeto da anistia no Congresso. “Enquanto isso, a única ferramenta que nós temos é trabalhar pela anistia, que é o que a gente tem feito intensamente desde o primeiro momento em que assumi a liderança do partido. Vamos continuar com muita esperança que a semana que vem a gente resolve esse assunto na Câmara dos Deputados”, afirmou.

O senador Rogério Marinho (PL-RN) disse, no X, que é “hora de virar a página dessa escalada autoritária” e defendeu anistia como uma forma de pacificação nacional. O parlamentar, que foi ministro durante governo Bolsonaro, afirmou ainda que o julgamento é duro golpe contra democracia.

“O Brasil precisa de paz, e a solução está no Congresso Nacional, a quem cabe -com competência privativa- aprovar a anistia ampla, geral e irrestrita. Uma medida de justiça e pacificação, que contemple não apenas Bolsonaro, mas todos os perseguidos pelos eventos de 8 de janeiro”, disse Marinho.

O projeto de lei que concede anistia aos condenados nos ataques golpistas de 8 de janeiro teve uma nova versão feita por Sóstenes circulando na semana passada, que alcançava crimes desde o inquérito das fake news do STF, em 2019, e abrange crimes eleitorais, liberando Bolsonaro para concorrer em 2026.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), admitiu pressão de parlamentares na casa para pautar a proposta, mas ainda resiste. Não se comprometeu a pautar o projeto de lei para votação, ainda que bolsonaristas esperem votá-la na próxima semana.