SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Paisagens brasileiras de montanhas e rios se mimetizam junto à vista para o jardim de Lina Bo Bardi. As imagens, sustentadas por colunas de metal, foram impressas sobre caixas de vidro erguidas na sala da casa que foi da arquiteta, um dos principais nomes do modernismo brasileiro.
As estruturas, espécies de cavaletes de vidro, foram pensadas pela própria Lina -que nunca terminou de projetá-las-, na mesma época em que criou os icônicos cavaletes que hoje expõem as obras do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo, o Masp.
Agora, esses suportes inéditos ganham vida fora do papel pelas mãos da artista e arquiteta Ana Maria Tavares.
Eles estão expostos na Casa de Vidro -moradia de Lina até sua morte, projetada por ela mesma-, na mostra “Paisagens Perdidas para Lina Bo Bardi”. Tavares, conhecida por repensar o modernismo brasileiro a partir de discussões da atualidade, imprimiu sobre o vidro dos cavaletes imagens de paisagens do país para tensionar a relação entre arquitetura e natureza -mais especificamente, a ambição de prender ou dominar coisas inapreensíveis, como montanhas, rios e florestas.
Dispostas sobre o vidro, porém, as fotos ficaram translucidas e sem foco, como se fossem observadas através de uma bruma. A sensação combina com a vista para o jardim de Lina pelas vidraças da casa que, como uma metalinguagem, também é uma espécie de caixa suspensa por finas colunas.
“Há uma contradição entre a leveza e flutuação das obras modernistas que, no geral, são pesadas, feitas em materiais como bronze e ferro”, diz Tavares. A artista também exibe um vídeo que transforma digitalmente a casa de Lina em uma espécie de morada aquática e “Vitorias Régias para o Rio Cocó”, que recria o rio cearense em uma maquete minimalista.
A obra é composta por uma placa de metal com fendas sinuosas, imitando o relevo que se forma quando uma superfície aquática é tocada. Sobre essa estrutura estão vitórias-régias feitas em ouro e nióbio, metais nobres que refletem a exploração mineral nas margens do rio.
Tavares conta que comunidades locais pressionam o governo desde 1960 para que a área se tornasse uma reserva natural, oficialização que aconteceu apenas em 2017. Hoje, o Parque Estadual do Cocó guarda uma extensa porção de mata e ecossistemas como manguezais e dunas.
A última obra de Tavares exposta na Casa de Vidro é uma projeção instalada no quarto de Lina. A decoração da arquiteta foi mantida, com um grande oratório sobre a cama somado a móveis de madeira simples, funcionais e antigos -uma estética que, curiosamente, contrasta muito com as criações modernas da ex-moradora.
Sobre a cortina da janela, Tavares projeta uma imagem abstrata e azulada, que se mexe como o movimento das águas de um rio, acompanhada de um som que parece um mantra. O cenário onírico parece querer dar vida aos sonhos de Lina, guardados no ambiente onde ela dormia.
PAISAGENS PERDIDAS PARA LINA BO BARDI
Quando Das 10h às 11h30 e das 14h às 15h30. Até 13/9
Onde Casa de Vidro – r. Gen. Almério de Moura, 200, São Paulo
Preço Grátis
Classificação Livre
Autoria Ana Maria Tavares