SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os preços do café no varejo dos Estados Unidos registraram a maior alta anual do século após o presidente Donald Trump impor tarifas sobre importações do Brasil, o maior produtor mundial, potencializando os efeitos de uma escassez global de oferta.

A inflação do café nos EUA subiu 3,6% em agosto, ou 21% na comparação com o ano passado, a maior taxa desde 1997, de acordo com dados publicados nesta quinta-feira (11) pelo Bureau of Labor Statistics. O café moído atingiu um recorde de US$ 8,87 por libra (cerca de R$ 105 o quilo) em supermercados.

Os mercados globais de café dispararam no último ano após colheitas fracas em grandes países exportadores.

Nos EUA, cujos torrefadores dependem de importações para quase todo o fornecimento, os custos aumentaram ainda mais desde que o presidente Donald Trump declarou, em julho, uma tarifa de 50% sobre o Brasil. O país é o maior produtor mundial de café arábica de qualidade e historicamente fornecia cerca de 30% dos grãos consumidos nos EUA.

As remessas de café do Brasil para os EUA caíram pela metade no acumulado do ano, segundo a Vizion, serviço de dados de transporte. A queda se acelerou em agosto, quando as exportações brasileiras despencaram mais de 75% em relação a agosto de 2024.

Importações de outros grandes produtores, como Vietnã e Colômbia, não conseguiram suprir a demanda, mostram os dados da Vizion.

No Brasil, o café moído registrou deflação de -2,17% em agosto, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta semana. A baixa dos preços em agosto foi a segunda consecutiva e a maior desde maio de 2018 (-2,28%). Em 12 meses, o café ainda acumula alta de 60,85%.

O estoque excedente tem ajudado a amenizar o impacto nos EUA.

“Mas, em algum momento, se os americanos continuarem consumindo café no ritmo usual, esses estoques também têm limites”, disse Thijs Geijer, economista sênior de alimentos e agricultura do ING ao Financial Times. “Novas remessas serão necessárias, mas a questão é: de onde elas virão?”

Os preços futuros do café já vinham subindo à medida que mudanças climáticas provocam um clima cada vez mais irregular no Brasil e no Vietnã. Colheitas fracas em ambos os países -o Brasil domina o mercado de arábica, enquanto o Vietnã é o maior fornecedor do café robusta mais barato, usado em cafés instantâneos- têm apertado a oferta mundial.

A indústria de supermercados dos EUA tem pressionado por isenções de tarifas em produtos que não podem ser cultivados domesticamente a preços acessíveis. Na semana passada, a Casa Branca divulgou uma lista de produtos, incluindo o café, que poderiam receber tarifas mais baixas caso os EUA fechem novos acordos comerciais com os exportadores.

Os consumidores de café ainda podem não ter sentido totalmente o impacto das tarifas, disse Geijer. O café enviado do porto de Santos leva até 20 dias para chegar aos portos dos EUA, e depois precisa ser torrado.

“Mesmo assim, depende: os preços mais altos são repassados imediatamente pelos torrefadores ou gradualmente?”, disse Geijer, acrescentando que grande parte do impacto das tarifas pode não chegar às prateleiras até outubro ou novembro.

Dois terços dos adultos nos EUA consomem café diariamente, segundo pesquisa da National Coffee Association, grupo do setor.

A Kroger, maior rede de supermercados dos EUA, tem tentado absorver o aumento de custos nos alimentos tanto quanto possível, disse Ron Sargent, diretor-executivo interino, durante teleconferência com analistas nesta quinta-feira. “Ocasionalmente, as tarifas terão impacto em alguns preços”, acrescentou.

O aumento dos preços do café integra uma onda mais ampla de inflação de alimentos nos EUA. Os preços ao consumidor subiram 2,9% em agosto na comparação anual, a maior alta desde janeiro, informou o BLS.

Os preços de alimentos consumidos em casa subiram 0,6% em agosto em relação a julho, após queda de 0,1% em julho.