SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) desistiu de montar um cronograma para deixar de vender os tipos de diesel mais poluentes S500 e S1800 no Brasil, que estão sendo substituídos gradualmente pelo S10, com menor teor de enxofre.
No ano passado, a agência havia criado um grupo de trabalho para descontinuar os dois tipos, que já não são permitidos em áreas urbanas. O S1800 tem menos de 0,2% de participação no mercado nacional e só é utilizado residualmente para fins não rodoviários, principalmente por usinas termelétricas.
O S500, porém, ainda tem 30% de representatividade, com maior presença na região Norte e em áreas remotas, e sua descontinuidade preocupa caminhoneiros, que temem um aumento do preço. Em muitos postos do país, o S10 chega a ser até 10 centavos a mais que o S500.
O objetivo da descontinuidade era reduzir as emissões do dióxido de enxofre, poluente associado à chuva ácida, menos presente no diesel S10.
A decisão de continuar avaliando o mercado, aprovada na última sexta-feira (5) pela diretoria da agência, surgiu após um estudo da área técnica concluir que a representatividade do S500 caiu consideravelmente em todas as regiões do país nos últimos dez anos. O S10, introduzido em 2012 na matriz veicular nacional, já representa quase 70% do consumo.
O estudo mostrou que, apesar de um cronograma de descontinuidade do S500 trazer ganhos ambientais, poderia resultar em aumento no preço final do combustível e maior dependência de importações.
Segundo a ANP, porém, isso não tem relação com o valor cobrado pelos postos atualmente, mas sim com o custo de adaptação das refinarias que ainda produzem o S500, o que poderia vir a ser repassado ao consumidor.
A partir de agora, o grupo de trabalho pretende aprofundar estudos sobre outros pontos do tema, como a proposta de barrar investimentos em ampliações e novas instalações que produzam diesel de alto teor de enxofre.
“Estivemos acompanhando a ANP nessa análise, para ver se o diesel vai ficar mais caro para os caminhoneiros”, afirma o presidente da Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores), Wallace Landim, conhecido como Chorão, um dos líderes da greve dos caminhoneiros de 2018.
“Se fica mais caro para os caminhoneiros, fica para todo mundo. É uma cadeia, sobe os preços do supermercado”, diz.
De janeiro de 2015 a maio de 2025, segundo a ANP, a queda de representatividade do óleo diesel S500 foi de 47% no Centro-Oeste, 43% no Nordeste, 42% no Sul, 38% no Sudeste e 36% no Norte.
Diante disso, a agência decidiu implementar ações de monitoramento e permitir que a transição continue ocorrendo de forma gradual.
“No caso do diesel S1800, cuja participação no mercado é muito baixa, a tendência é que a sua eliminação ocorra de maneira ainda mais rápida e natural”, afirma o órgão em nota.