BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O BRB (Banco de Brasília) avalia a compra de ativos menores do Master após o BC (Banco Central) não autorizar a aquisição da instituição de Daniel Vorcaro. Por ora, a ideia não é apresentar uma nova proposta de compra da empresa, mesmo com alcance mais restrito.

Vorcaro se reuniu com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, na terça-feira (9), junto com os diretores de Fiscalização do BC, Ailton de Aquino, e de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, Renato Gomes, para discutir a situação do banco. No mesmo dia, Aquino e Gomes conversaram por videoconferência com Paulo Henrique Costa, presidente do BRB.

A assessoria do BRB disse que não vai comentar o conteúdo da reportagem. O Master não respondeu a pedido de informações da reportagem.

O maior interesse do BRB agora é aumentar a presença no crédito consignado, segundo pessoas a par do tema. O banco do DF pode, por exemplo, comprar carteiras dessa modalidade, que já foram auditadas.

Uma operação desse tipo não exigiria aval do Banco Central, já que não se trata de uma aquisição de instituição financeira.

Outras duas áreas para novas parcerias são a digital e a de operações estruturadas de câmbio, como de comércio exterior.

A área digital do Master está ligada ao Will Bank, instituição financeira que integra o conglomerado do Master e tem forte atuação no Nordeste. Na avaliação do BRB, trata-se de uma plataforma tecnológica com um time jovem de colaboradores que pode possibilitar o ganho de expertise no segmento e crescer mais rapidamente na oferta de serviços digitais.

A estatal de Brasília considera que segue viável a aquisição do chamado “banco bom” (a parcela de ativos do Master que seria adquirida na operação rejeitada pelo Banco Central). Mas a apresentação de uma nova proposta de aquisição menor é considerada improvável por integrantes do próprio banco estatal.

Com esses novos negócios, Vorcaro conseguiria injetar dinheiro no Master e ajudar a pagar o passivo elevado com os CDBs (Certificados de Depósito Bancário) —títulos que foram vendidos com altas taxas de remuneração para os investidores. As aplicações até R$ 250 mil têm garantia do FGC (Fundo Garantidor de Créditos), constituído com recursos repassados pelas instituições financeiras.

O FGC já concedeu em maio uma linha emergencial de R$ 4 bilhões a Vorcaro, que tenta sem sucesso fechar um novo aporte de até R$ 15 bilhões para garantir liquidez de caixa para honrar os CDBs que estão vencendo. O Master não tem emitido novos papéis como esse, o que secou o canal de captação de recursos do banco para fazer frente aos novos vencimentos.

Vorcaro já vendeu ativos pessoais e buscava fechar outros negócios para injetar dinheiro no banco quando a operação com o BRB foi vetada pelo BC. Entre eles, a venda da seguradora Kovr.

No mercado bancário, a percepção de representantes de instituições financeiras, ouvidas pela Folha na condição de anonimato, é que o veto do BC sinalizou que o regulador não vai aceitar uma solução que envolva a aquisição do Master por um outro banco.

Isso porque haveria o mesmo problema apontado pelo BC para rejeitar a aquisição pelo BRB: o chamado risco de sucessão —a possibilidade de o comprador ter que assumir dívidas que não são conhecidas e podem contaminar uma instituição em boa situação financeira.

SEM BALANÇO

Os representantes de instituições financeiras que fazem aportes maiores para o FGC têm cobrado a apresentação do balanço do Master. Eles argumentam que só com um balancete financeiro e patrimonial transparente será possível enxergar o tamanho das dívidas da empresa com os CDBs e outros passivos.

O último balanço foi divulgado em 1º de abril, referente ao ano de 2024, quando o Master registrou um lucro de R$ 1 bilhão. Há um desconforto com o atraso do Master em divulgar um novo balanço. A desconfiança é que o banco enfrente dificuldades para conseguir parecer favorável de auditoria externa para publicar esse documento. Também há incertezas sobre a precificação de ativos no documento.

Para conseguir a aprovação no BC, o BRB reduziu o tamanho do chamado perímetro do negócio (os ativos a serem comprados) a um terço do valor inicialmente previsto no dia do anúncio da operação, em 28 de março. No final de agosto, o valor estimado estava em R$ 24 bilhões. Os ativos remanescentes do Master, que não seriam adquiridos pelo BRB, somavam na época R$ 51,2 bilhões.

Apesar de diminuir o tamanho da proposta, o BC não concordou com a avaliação. Além do risco de sucessão, o BC apontou incertezas sobre os valores de ativos do Master e questões mais formais de auditoria e instrução do pedido ao órgão regulador.