SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, voltou a dizer nesta quinta-feira (11) que não haverá Estado palestino e assinou um acordo para avançar com um polêmico plano de expansão de assentamentos judaicos na Cisjordânia, território palestino ocupado desde 1967.

O premiê fez o anúncio em uma visita ao assentamento de Ma’ale Adumim, local onde o projeto, conhecido como E1, prevê a construção de mais de 3.400 casas. Se concretizada, a medida dividiria a Cisjordânia e a isolaria de Jerusalém Oriental, anexada ilegalmente por Israel em 1980.

A proposta foi idealizada pelo ministro das Finanças, o extremista Bezalel Smotrich. Ele defendeu a aceleração do plano e a anexação da Cisjordânia em reação a anúncios de vários países sobre a intenção de reconhecer oficialmente um Estado palestino.

A declaração ocorre dias após um ataque a tiros em Jerusalém que deixou seis mortos, reivindicado pela ala militar do Hamas, chamada de Brigadas Izz ad-Din al-Qassam. Após o atentado, Smotrich afirmou que a Autoridade Palestina, órgão reconhecido pela comunidade internacional que governa parcialmente a Cisjordânia, “deve desaparecer do mapa”.

Tel Aviv também revidou lançando um ataque inédito contra a alta liderança do Hamas no Qatar. A operação teve como alvo dirigentes do grupo terrorista que participam das negociações indiretas para encerrar o conflito na Faixa Gaza.

Nesta quinta, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) condenou a ofensiva contra Doha, mas não mencionou Israel na declaração. O texto foi aprovado por todos os 15 membros, incluindo os Estados Unidos, que são aliados históricos de Tel Aviv e que mantém sua maior base aérea no Oriente Médio em território qatari.

O documento ressalta “a importância da redução das tensões” e “expressa solidariedade ao Qatar”. “Os membros do Conselho enfatizaram que a libertação dos reféns, incluindo aqueles mortos pelo Hamas, e o fim da guerra e do sofrimento em Gaza devem continuar sendo nossa principal prioridade”, afirmou ainda.

Israel havia congelado os planos de construção em Ma’ale Adumim depois de protestos de aliados europeus, EUA e outras potências que consideravam o projeto uma ameaça a qualquer futuro acordo de paz com os palestinos. O direito internacional considera ilegais os assentamentos judaicos na Cisjordânia.

Agora, com Donald Trump na Casa Branca, Tel Aviv parece mais confiante para seguir adiante com os planos.

As obras de infraestrutura podem começar em poucos meses e a construção de casas em cerca de um ano, de acordo com o grupo israelense de defesa Peace Now, que monitora a atividade de assentamentos na Cisjordânia.

Governada parcialmente pela Autoridade Palestina, a Cisjordânia foi dividida em três áreas administrativas nos Acordos de Oslo, firmados entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), de 1993 a 1995.

Duas delas são regiões em parte administradas pelos palestinos. A terceira —e maior— está sob comando de Israel. O acordo era transferi-la aos palestinos quando um acordo de paz definitivo fosse selado. Isso nunca ocorreu.

Essa colcha de retalhos em que se transformou a Cisjordânia, território que abriga 3 milhões de pessoas e que faz fronteira com a Jordânia, motiva disputas cada vez mais acirradas.

Com o passar dos anos e a ideia de uma Palestina independente se tornando mais distante, Tel Aviv continuou a permitir a construção de novos assentamentos no território.

Cerca de 700 mil colonos israelenses vivem entre 2,7 milhões de palestinos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental —territórios capturados por Israel da Jordânia na guerra de 1967.

A construção de assentamentos na Cisjordânia acelerou no governo de Netanyahu, especialmente desde o início da guerra na Faixa de Gaza. Tel Aviv também intensificou as operações militares contra palestinos na Cisjordânia.

Alguns desses locais se assemelham a pequenas cidades ou a subúrbios de grandes municípios de países desenvolvidos. Embora muitos sejam ocupados por sionistas religiosos que acreditam que seu direito de viver na região venha dos textos bíblicos, outros tantos judeus seculares se mudaram para os assentamentos devido aos preços mais baixos em comparação com terrenos em Israel.

Os palestinos consideram o avanço dos assentamentos um obstáculo para suas aspirações de criar um Estado independente na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental ocupada como capital.