SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em uma aproximação com o principal aliado de Vladimir Putin na Europa, o presidente Donald Trump negociou com Belarus a libertação de 52 prisioneiros políticos em troca de um alívio nas sanções americanas sobre a ditadura de Aleksandr Lukachenko.
A libertação ocorreu nesta quinta (11), e os detidos foram enviados para a Lituânia, onde uma delegação dos Estados Unidos participou das tratativas. Mais cedo, Trump conversou ao telefone com Lukachenko.
Em troca, o belarusso viu as sanções sobre a empresa aérea estatal Belavia serem levantadas, permitindo que ela receba manutenção e compre peças de firmas americanas sua frota tem sete Boeing dos EUA, cinco modelos da brasileira Embraer e três Airbus europeus, que seguem sob sanções da União Europeia.
O movimento é visto em Moscou como um ensaio na normalização com a chamada última ditadura da Europa, já que Lukachenko está no poder desde 1994, e as eleições que o mantêm na cadeira são amplamente qualificadas como fraudulentas. Trump já havia o procurado por telefone em agosto, após uma negociação para libertar prisioneiros em junho.
Ao fim, é um gesto a Putin, de quem o ditador é vassalo, já que o russo também quer ver o fim das sanções aplicadas a Moscou devido à invasão da Ucrânia em 2022. Mas observadores do Kremlin consultados pela reportagem citam um risco oculto, que é o de Trump buscar atrair o aliado de Minsk para minar a influência da Rússia no vizinho.
Hoje, de todo modo, isso parece inviável, dada integração entre os países, que formam uma aliança algo frouxa chamada Estado da União. Nesta sexta (12), ambos começam o exercício quadrienal Zapad (Ocidente), que vai simular ataques nucleares Putin estacionou ogivas atômicas no país em 2024.
A oposição belarussa comemorou a libertação, mas criticou a abordagem de Trump. Para a líder exilada na Lituânia Svetlana Tikhanovskaia, a fração dos presos é mínima, ante os cerca de 1.400 detidos no país, a maioria depois dos protestos após a derrota dela no pleito fraudado de 2020.
O episódio levou a punições europeias ao país, e o apoio à Rússia contra Kiev adicionou as medidas dos EUA.
O alívio para a empresa aérea “também pode abrir uma brecha para a Rússia adquirir partes [de aviões] por meio da Belavia”, disse a opositora. Sob sanção, as aerolinhas russas sofrem para manter suas frotas de Boeing e Airbus no ar, recorrendo a gambiarras e esquemas para manutenção em países da Ásia Central.
Entre os detidos soltos, há 14 estrangeiros. “O que aconteceu foi um grande sucesso para os EUA e para todos nós”, disse o presidente lituano, Gitanas Nauseda.
O líder da missão americana, o advogado John Coale, afirmou que Trump quer reabrir a embaixada americana em Minsk e enviou uma carta para Lukachenko assinada apenas com seu prenome, “o que é um raro ato de amizade pessoal”.
O ditador foi fleumático. “Se Donald insiste que está pronto para receber esses prisioneiros, Deus o abençoe, vamos tentar um acordo global. Como o senhor Trump gosta de dizer, um grande acordo”, afirmou ele, que elogiou as tentativas do americano de promover a paz na Ucrânia.
Belarus está numa posição delicada, servindo de área tampão entre a Rússia e forças da Otan. O país permite operações de Moscou a partir de seu território e espaço aéreo, mas não participa diretamente da guerra contra a vizinha Ucrânia. Todo o entorno do Báltico virou uma área de intenso atrito.
Na quarta (10), a tensão cresceu ainda mais com a incursão de drones lançados contra as forças de Kiev em território polonês, país que fechou as fronteiras com Belarus devido ao exercício Zapad. Cerca de 20 aparelhos provocaram uma mobilização inédita de caças de Varsóvia e também da Holanda, que derrubaram um número incerto deles.
Moscou baixou a bola da crise, dizendo que nunca alvejou o membro da Otan e que considera o incidente passado, e Trump foi ambíguo ao comentar o evento. A aliança militar ocidental está discutindo o caso, que deverá ser objeto de reunião do Conselho de Segurança da ONU nesta quinta.
Por ora, o debate na Otan é sobre reforço da defesa do seu flanco leste, claramente vulnerável a intrusões do tipo. O emprego de caças contra drones é caro e ineficaz, em caso de um ataque maciço, mas França e Reino Unido já ofereceram o envio de aviões de combate para sinalizar apoio a Varsóvia.