BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Peter Mandelson, embaixador do Reino Unido nos EUA, foi demitido nesta quinta-feira (11) pelo primeiro-ministro Keir Starmer após sua longa amizade com o financista Jeffrey Epstein ter ficado evidente a partir de novas revelações sobre o caso. Epstein, com uma lista de amigos que vai de Donald Trump a Bill Clinton, cometeu suicídio em 2019 após ser preso sob acusações de abuso e exploração sexual de menores.

Mandelson, 71, é uma das muitas figuras públicas que aparecem no livro montado por Ghislaine Maxwell, ex-namorada de Epstein, por ocasião de seu 50° aniversário. A peça mais polêmica do álbum é um desenho com dedicatória atribuído a Trump, que nega a autoria.

A relação dos dois é objeto de investigação de uma comissão do Congresso americano e de diversas especulações, boa parte produzida por aliados radicais de Trump após seu governo recuar da promessa de liberar todos os documentos do caso.

Lorde Mandelson é um veterano da política britânica, apelidado de “príncipe das trevas” pela imprensa local por sua participação nos bastidores do governo trabalhista de Tony Blair (1997-2007). Ele é um dos ideólogos da chamada Terceira Via, que propunha uma alternativa ao socialismo e ao liberalismo na virada do século. Foi ainda comissário de Comércio da União Europeia.

Na quarta (10), quando sua relação com Epstein era muito explorada nos dois lados do Atlântico, Mandelson fez um pronunciamento, no qual se dizia arrependido por ter mantido uma relação “por muito mais tempo do que deveria” com Epstein. Era uma tentativa de acalmar os ânimos e dar algum espaço para Starmer, que chegou a defender sua permanência quando questionado pelo Parlamento.

A situação ficou insustentável, no entanto, a partir da publicação pelo tabloide The Sun de mensagens trocadas por email entre Mandelson e Epstein. Além de intimidade, os diálogos mostram que, em 2008, o político britânico chegou a opinar sobre a condenação do financista por prostituição infantil.

“Os e-mails mostram que a profundidade e a extensão da relação de Peter Mandelson com Jeffrey Epstein são substancialmente diferentes daquelas conhecidas no momento de sua nomeação. Em particular, a sugestão de Peter Mandelson de que a primeira condenação de Jeffrey Epstein foi injusta e deveria ser contestada é uma informação nova”, declarou o ministério das Relações Exteriores.

A demissão vem em um monte de baixa popularidade de Starmer, que, por coincidência, se prepara para receber Trump em visita oficial na próxima semana.

Mandelson não contestou o teor dos emails. “Tenho uma grande admiração por você e me sinto desesperado e furioso com o que aconteceu”, escreveu em um das mensagens. “Ainda não consigo entender. Isso simplesmente não poderia acontecer na Grã-Bretanha. Você precisa ser incrivelmente resiliente, lutar por uma libertação antecipada e encarar a situação com a maior filosofia possível.”

Epstein, morto aos 66 anos, havia sido acusado de abusar de dezenas de garotas em 2008, mas conseguiu evitar acusações federais ao admitir ter solicitado serviços de prostituição. O financista chegou a um acordo com a promotoria na Flórida para pôr fim a uma investigação que poderia lhe condenar à prisão perpétua.

Declarou-se culpado de acusações menores, foi sentenciado a 13 meses de prisão e chegou a um acordo financeiro com as vítimas. Ghislaine Maxwell cumpre pena de 20 anos, por ajudar Epstein a cometer crimes sexuais, e agora tenta anular sua condenação na Suprema Corte dos EUA.