SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teria se irritado com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, após o ataque de Israel contra a cúpula política do Hamas em Doha, no Qatar, segundo divulgado pelo The Wall Street Journal.

Trump ligou para Netanyahu e demonstrou “profunda frustração” por ter sido “surpreendido” pela ação israelense. A informação foi repassada ao jornal norte-americano por um funcionário da Casa Branca sob sigilo.

Presidente dos EUA teria dito ao premiê israelense que decisão de atacar líderes políticos do Hamas em Doha não foi “sábia”. Segundo informado pelo funcionário da administração federal ao The Wall Street, Trump se irritou ao descobrir que o ataque ocorreu a partir da base militar norte-americana ao invés de Israel.

Trump também reclamou que o ataque tenha ocorrido no Qatar, aliado dos EUA, acrescentou o funcionário ao jornal. O país árabe, que não mantinha relações diplomáticas com Israel, mas era visto como amistoso no Oriente Médio, se dispunha, até então, a mediar as negociações de cessar-fogo na Faixa de Gaza, onde a ofensiva israelense já matou mais de 50 mil pessoas.

Netanyahu teria respondido que encontrou uma “brecha” para lançar os ataques e “aproveitou a oportunidade”. Os bombardeios israelenses tiveram como alvos dirigentes do Hamas que participavam de tentativas indiretas de acordo para encerrar o conflito com Israel em Doha, onde o grupo palestino mantém sua base política em exílio (leia mais aqui).

Uma segunda conversa entre Trump e Netanyahu ocorreu de forma cordial, segundo o TWJ. Nela, de acordo com o funcionário da Casa Branca, o presidente norte-americano questionou se o ataque à cúpula do Hamas foi bem-sucedido. Em resposta, o israelense disse não saber.

Horas após o ataque, o Hamas afirmou que suas lideranças haviam sobrevivido aos bombardeios. Seis membros de menor escalão do grupo, porém, morreram. Conforme apurado pela Reuters, entre as vítimas fatais estavam Himam al Hayya, filho do principal negociador do grupo islâmico, Khalil al Hayya, e Jihad Labad, que atuava com al Hayya.

EUA SABIA DO ATAQUE?

Funcionário da Casa Branca repassou informações ao TWJ após especulações de que os EUA sabiam com antecedência da ofensiva israelense em Doha, condenada pela comunidade internacional. Na última terça-feira (9), dia do ataque, o Canal 12, da TV israelense, divulgou que Trump teria dado sinal verde para a ação de Israel.

Proposta de cessar-fogo pautada pelos EUA era “fraude para levar membros do Hamas à reunião alvo do ataque”, afirmou porta-voz do grupo à emissora qatari Al Jazeera. No mesmo dia, Netanyahu assumiu o ataque, mas deu a entender que Israel agiu de forma “totalmente independente”.

Horas após os bombardeios em Doha, outro funcionário da administração federal disse que Trump sabia da ofensiva com antecedência. A informação de que o ataque em Doha não foi uma surpresa para o presidente norte-americano foi revelada por outra fonte da Casa Branca à agência de notícias AFP.

No mesmo dia, porém, porta-voz da Casa Branca declarou que Trump “lamentou profundamente” os bombardeios em Doha. À imprensa, Karoline Leavitt afirmou que, assim que souberam do ataque, os Estados Unidos informaram ao Qatar que as forças israelenses estavam atacando a residência onde altos dirigentes do Hamas estavam na capital do país árabe. Ter atacado Doha “deixa uma impressão muito ruim” em Trump, disse ela, que acrescentou, no entanto, que “eliminar o Hamas” é “um objetivo louvável”.

O presidente Trump acredita que esse incidente infeliz poderia servir como uma oportunidade para a paz. Karoline Leavitt, porta-voz da Casa Branca, a jornalistas

Questionada se os EUA foram informados com antecedência por Israel sobre o ataque, ou se suas forças militares souberam por meios próprios, Leavitt não respondeu. Ela concluiu a coletiva de imprensa dizendo apenas que Trump assegurou ao Qatar “que algo assim não voltaria a ocorrer em seu território”.