SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em leve alta nesta quinta-feira (11) com os investidores à espera do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF (Supremo Tribunal Federal) por tentativa de golpe de Estado.

Os investidores ainda avaliam os dados das vendas do varejo brasileiro, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que mostraram retração de 0,3% em julho ante junho.

Já no cenário internacional, a expectativa é a divulgação da inflação nos EUA, que pode intensificar as apostas em cortes de juros pelo Fed (Federal Reserve) na próxima semana.

Às 9h, a moeda norte-americana subia 0,19%, cotada a R$ 5,4174. Na quarta (10), a moeda americana registrou queda de 0,54% nesta quarta-feira (10), cotado a R$ 5,406.

Já a Bolsa brasileira teve alta de 0,51%, fechando aos 142.348 pontos. O Ibovespa chegou a superar os 143 mil pontos no pregão, mas desacelerou ao longo do dia.

O desempenho do Ibovespa acompanhou a alta das ações do Banco do Brasil, que subiram mais de 3% após a publicação de uma MP (medida provisória) que libera R$ 12 bi para a renegociação das dívidas do agro, e da Petrobras, que registrou alta de 1,80%. O setor de varejo também teve um dia positivo, favorecido pela queda do IPCA divulgada na manhã desta quarta.

Na ponta negativa, a Embraer teve recuo de 1,58%, mesmo após o anúncio de uma encomenda de mais de 50 aeronaves feita pela empresa americana Avelo.

O mercado do dia permanece atento ao julgamento de Bolsonaro no STF. A Primeira Turma do STF retomou a análise do processo com o ministro Luiz Fux, que descartou condenar o ex-presidente por organização criminosa.

Os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino votaram na última terça-feira (9) para condenar os oito réus em julgamento por todos os crimes pelos quais são acusados: abolição do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, associação criminosa, dano qualificado contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.

Dino apontou que pode aplicar penas mais leves aos ex-ministros Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira e ao ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Alexandre Ramagem, por entender que houve menor participação dos três.

O julgamento deve terminar na sexta, quando está prevista a leitura da sentença. Fora o ministro Fux, que seguia votando até o fechamento do mercado, faltam os votos de Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.

O julgamento de Bolsonaro promete impactar a relação comercial entre Brasil e EUA. Quando Trump anunciou a tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros em julho, ele vinculou a decisão, entre outros pontos, a uma suposta “caça às bruxas” que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) seria vítima.

Ministros do STF dizem esperar uma escalada de ataques de Donald Trump contra eles por causa do julgamento.

Nesta terça, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que o presidente americano aplicou tarifas e sanções contra o Brasil para proteger a “liberdade de expressão” e que o país não terá medo de usar o “poder econômico e militar” para defendê-la.

Para Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, a conclusão do processo do ex-presidente Bolsonaro deve dificultar uma reaproximação entre os países. “Pode gerar novas sanções e tarifas, o que aumenta a percepção de riscos de ativos brasileiros e tende a prejudicar o real”, afirma.

O mercado também avalia o resultado da inflação divulgado na manhã desta quarta, que apresentou deflação (queda) de 0,11% em agosto, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O resultado refletiu a baixa dos preços da energia elétrica com o desconto temporário do bônus de Itaipu.

É a primeira redução mensal do índice oficial de preços do país em um ano. A queda anterior, de apenas 0,02%, ocorreu em agosto de 2024.

A deflação de 0,11% é a maior em quase três anos, desde setembro de 2022, quando o recuo havia sido de 0,29%. À época, o resultado refletiu redução tributária do governo Bolsonaro às vésperas das eleições presidenciais.

Os dados impactaram o desempenho da Bolsa nesta quarta. Entre os destaques do pregão, estão as ações do Magazine Luiza, que chegaram a registrar alta de 6,61% na máxima do dia e fecharam com avanço de 4%.

Segundo Patrick Buss, operador de renda variável da Manchester Investimentos, a redução no IPCA trouxe uma expectativa de queda de juros. “Com a redução, as empresas do varejo são beneficiadas pela possibilidade de vender mais e pagar menos juros em suas dívidas”.

Para Rafael Perez, economista da Suno Research, por outro lado, os indicadores sinalizam que, embora a inflação esteja cedendo, ela permanece resiliente com o impulso da atividade doméstica. “Os preços continuam pressionados pelo mercado de trabalho e pela expansão do consumo das famílias […] Esses fatores justificam uma postura mais restritiva do Copom”.

Dados da economia americana também marcam o pregão, com investidores intensificando as expectativas por um corte de juros dos EUA pelo Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) no próximo dia 17.

O índice de preços ao produtor (PPI) dos Estados Unidos caiu 0,1% em agosto na comparação com o mês anterior, após a alta revisada de 0,7% em julho, segundo dados divulgados nesta quarta pelo Departamento do Trabalho americano.

O resultado veio bem abaixo da previsão dos economistas, que era de uma alta de 0,3%. No acumulado de 12 meses, o PPI teve alta de 2,6% em agosto, mostram os dados.

Para Daniel Teles, especialista e sócio da Valor Investimentos, os números reforçam ainda mais a tese de uma diminuição de juros. “O grande ponto a ser discutido é a magnitude desse corte”.

Segundo a ferramenta CME FedWatch, operadores precificam 88% de chance do banco central reduzir a taxa de juros americanas em 0,25 ponto percentual —12% veem uma redução de 0,50.

No mês passado, o chair do Fed, Jerome Powell, sinalizou um corte na taxa de juros deste mês.

Analistas dizem que a redução da taxa básica de juros dos EUA deve impactar a Bolsa brasileiras nos próximos dias.

“O cenário atual permanece favorável à continuidade da tendência de alta, com o próximo alvo apontando para os 145.800 pontos”, afirmou a equipe de grafistas da Ágora Investimentos, em relatório a clientes.

A equipe do Itaú BBA também reforçou o otimismo. “O Ibovespa está em tendência de alta no curto e médio prazo, e segue em direção aos 150.000 e 165.000 pontos numa visão de médio prazo”, disse.