SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Moradores da favela do Moinho e militantes de movimentos sociais protestaram na noite desta quarta-feira (10) contra a prisão de nove pessoas nesta semana, todas suspeitas de ligação com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e com o tráfico de drogas.
O ato teve início no interior da favela, no bairro de Campos Elíseos, na região central de São Paulo.
Cartazes carregados pelos manifestantes cobravam um posicionamento do presidente Lula (PT) e do Ministério dos Direitos Humanos: “Cadê Lula?”, “Ministério dos Direitos Humanos – Cadê vocês!” e “Não à criminalização das favelas”.
Lula chegou a ir até a favela do Moinho no dia 26 de junho para anunciar um programa de moradia. Na ocasião, ele dividiu o palco com Alessandra Moja Cunha e sua filha Yasmin Moja Flores, que foram presas preventivamente na segunda-feira (8) por suspeita de tráfico de drogas e extorsão contra moradores da comunidade.
Alessandra Moja é irmã de Leonardo Moja, conhecido como Léo do Moinho, apontado como líder do tráfico de drogas no local.
Já em relação a Yasmin, os promotores apontam que ela mora num imóvel que pertence a Léo do Moinho e que é usado “para o armazenamento de ilícitos”. O documento registra que ela é líder comunitária e que trabalha na companhia de lixo da comunidade, mas não traz mais detalhes de suspeitas que pesem contra ela.
Por volta das 19h desta quarta, os cerca de 80 manifestantes fecharam a avenida Rio Branco no sentido centro.
O ato foi acompanhado pela Força Tática da Polícia Militar e pela Inspetoria de Operações Especiais da GCM (Guarda Civil Metropolitana). Uma equipe do Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia) desceu a Rio Branco com escudo e balas de borracha e atirou bombas de gás lacrimogêneo na hora da negociação para acabar com o protesto.
Com isso, os moradores e ativistas deixaram a via e entraram na favela pela rua Guaianases. No meio da correria, quatro policiais do Baep prenderam o manifestante Fernando Ferrari por desobediência, segundo um oficial.
O advogado Michael Dantas, 38, foi atingido no rosto com spray de pimenta ao tentar conversar com os polícias durante a detenção.
“Abuso de autoridade. Sem nenhuma tentativa de diálogo. Tacaram bomba em cima de mulher e crianças, sem diálogo”, disse à Folha de S.Paulo.
A conversa foi rápida. Dantas deixou o local correndo em direção ao 2° DP (Bom Retiro), para onde Ferrari foi levado.
Em abril, quando a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciou um plano de retirada das famílias, moradores realizaram uma série de protestos. Além de questionarem o processo de remoção, eles também se manifestavam contra o uso de força policial contra a população da favela.
O plano de remoção mobilizou a gestão estadual e o governo federal a chegar a um acordo, uma vez que o terreno onde está a favela pertence à União.
Em junho, Lula também assinou o decreto que dava início ao processo de transferência do terreno ao governo estadual. “A minha preocupação é que, se a gente fizer a cessão e eles tiverem que ocupar isso aqui amanhã, vão utilizar outra vez a polícia e vão tentar enxotar vocês [moradores]”, disse o presidente na ocasião.