SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Festejado como herói do bolsonarismo por seu voto no julgamento da trama golpista, o ministro Luiz Fux já foi, há poucos anos, criticado e ameaçado pelo grupo político do agora ex-presidente.

Em junho de 2020, contrariado com uma decisão de Fux sobre as atribuições das Forças Armadas segundo a Constituição, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) divulgou uma nota, assinada junto com seu vice, Hamilton Mourão, e o ministro do GSI, Augusto Heleno, com ameaças ao STF (Supremo Tribunal Federal).

A nota dizia que as Forças Armadas “não cumprem ordens absurdas, como p. ex. a tomada de poder. Também não aceitam tentativas de tomada de poder por outro poder da República, ao arrepio das leis, ou por conta de julgamentos políticos”.

A construção “tentativas de tomada do poder” é o subtítulo de Orvil, o livro secreto dos militares, para defender seu legado na ditadura, e é muito usada em outros livros com o mesmo propósito, como “A Grande Mentira”, do general Agnaldo Del Nero Augusto, um dos coordenadores do projeto Orvil.

Fux julgava uma ação do PDT sobre a delimitação do poder das Forças Armadas e, em sua decisão, esclareceu que elas não são “poder moderador”, diferentemente da interpretação equivocada do bolsonarismo. O STF reafirmaria essa tese em outro julgamento no plenário, quatro anos mais tarde.

Em 2021, já na condição de presidente do STF, Fux voltou a se chocar com o bolsonarismo, por causa do famigerado 7 de Setembro em que Bolsonaro instigou seus partidários contra o tribunal e cobrou que o presidente da corte enquadrasse o ministro Alexandre de Moraes.

Em seu discurso de abertura da sessão do STF em 8 de setembro daquele ano, Fux declarou: “Estejamos atentos a esses falsos profetas do patriotismo, que ignoram que democracias verdadeiras não admitem que se coloque o povo contra o povo, ou o povo contra as suas instituições”.