VIENA, ÁUSTRIA (FOLHAPRESS) – O Brasil anunciou nesta quarta-feira (10), em Viena, o compromisso de construir até 2026 a última estação que faltava para completar a rede mundial de medidores de radionuclídeos na América Latina e Caribe. O equipamento detecta gases liberados por testes de bombas nucleares em qualquer lugar do mundo, como o último deles, realizado pela Coreia do Norte em 2017.

Para ser efetiva, a rede depende de instalações espalhadas em pontos precisos de todo o planeta. As medições são feitas por monitoramento sísmico, hidroacústico, de infrassom e radionuclídeo. O Brasil já tem seis estações para todas essas medições, mas faltava a de radionuclídeo, considerada indispensável por ser a única que detecta especificamente gases liberados por bombas atômicas, mesmo em explosões subterrâneas e submarinas.

No caso brasileiro, uma primeira estação de radionuclídeo foi instalada no Instituto de Radioproteção e Dosimetria, no Rio de Janeiro, mas faltava uma segunda, que nunca chegou a sair do papel. As coordenadas precisas para essas estações foram determinadas em 1996, por técnicos do CTBTO, sigla em inglês do órgão que monitora o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares.

Ao aderir ao tratado, o Brasil recebeu duas coordenadas para as instalações de detectores de radionuclídeos. A do Recife coincidia com uma unidade militar brasileira perto da capital pernambucana. Durante o governo de Jair Bolsonaro, a estação quase foi levada adiante, mas cientistas temiam ter acesso restrito à unidade militar, disse à reportagem o presidente da CNEM (Comissão Nacional de Energia Nuclear), Francisco Rondinelli Júnior.

Nesta quarta (10), ele afirmou que a estação do Recife será construída finalmente no Centro Regional de Ciências Nucleares do Nordeste, ligado ao CNEM. O anúncio foi feito em reunião privada com o australiano Robert Floyd, secretário executivo do órgão técnico que monitora o tratado.

“É importante não sermos os últimos da fila”, declarou Rondinelli Júnior. “Já estamos com licitação aberta e pretendemos concluir a estação em 2026. Com isso, vamos prover informações vitais a toda a rede e teremos acesso também a dados que tratam, não só de testes atômicos, mas também de fenômenos naturais e aspectos ligados às mudanças ambientais em curso no mundo.”

Já Floyd disse estar “muito ansioso com a construção da última estação que faltava para completar a rede mundial de monitoramento na América Latina e Caribe”.

Questionado pela reportagem sobre o papel do Brasil em incentivar que Índia e outros parceiros do Brics assumam compromissos contra testes de bombas atômicas, o secretário-executivo disse esperar que o governo Luiz Inácio Lula da Silva “faça contato com os Estados com os quais se relaciona e que ainda não assinaram ou ratificaram”, pois esse é um compromisso esperado de todos os que aderiram ao CTBT. “O Brasil tem boas relações com vários desses países e nós queremos incentivar muito o Brasil a usar sua força para encorajar outros Estados”.

Ao todo, 187 países assinaram o CTBT, e 178 já o ratificaram. A assinatura é um compromisso político de respeitar o pacto, enquanto a ratificação é a internalização jurídica desse compromisso, após aprovação no Congresso e sanção presidencial.

O CTBT só entrará em vigor, no entanto, depois que um grupo específico, de 44 Estados, ratificar o documento. Esse grupo é formado pelos países que, em 1996, dispunham de tecnologia nuclear para fins civis ou militares. Hoje, 6 desses 44 Estados -China, Egito, Irã, Israel, Rússia e EUA- assinaram, mas ainda não ratificaram, enquanto 3 deles -Coreia do Norte, Índia e Paquistão- nem sequer assinaram.