SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Banco Central e o setor da construção ensaiam um modelo de transição para liberar mais dinheiro da poupança para financiar a compra da casa própria. A ideia é direcionar ao crédito imobiliário uma parte dos depósitos compulsórios que hoje ficam parados como reserva de segurança. O plano é fazer um teste ao longo de 2026, de forma gradual, e, se der certo, colocar em prática em 2027.

Renato Correia, presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), afirma que apresentou a sugestão nesta terça-feira (9), durante nova reunião com a diretoria do BC sobre novo modelo de crédito habitacional e recebeu sinal verde para iniciar testes.

“Não sabemos se será 1%, 2% ou 5%, mas será com recursos do compulsório”, disse Correia. Segundo ele, o BC vê a medida como forma de aumentar a eficiência do sistema sem comprometer a segurança da poupança.

O novo modelo de crédito habitacional prevê maior flexibilidade no uso de recursos do SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), que são uma fonte de captação mais barata para os bancos, pois a remuneração aos poupadores fica abaixo das taxas de mercado. A mudança vem sendo conduzida pelo Banco Central.

Hoje, os bancos recebem os depósitos na poupança e precisam direcionar pelo menos 65% dos recursos para operações de financiamento imobiliário, além de deixar 20% do valor depositado compulsoriamente no BC.

A proposta da Cbic é que os bancos direcionem uma fatia desses recursos -a princípio 5%- para os novos financiamentos com prazo de pagamento de 30 anos. Em troca, cada real emprestado com recursos da poupança liberaria o mesmo valor para ser usado livremente em outras modalidades de crédito, como empréstimos consignados ou financiamento de veículos, em que os bancos operam com margens maiores de lucro.

“Temos um sistema funcionando. Acredito que devemos fazer um teste com o compulsório para garantir a segurança da negociação. Todo mundo precisa se adaptar às regras escritas. No campo das ideias, achamos o novo modelo interessante”, afirma Correia.

NOVO TETO PARA A CLASSE MÉDIA COMPRAR A CASA PRÓPRIA

Outra proposta apresentada ao Banco Central pela Cbic é para a atualização do valor máximo dos imóveis que podem ser comprados com recursos da poupança. Desde 2018, o teto é de R$ 1,5 milhão. A proposta é que passe para algo em torno de R$ 2,1 milhões, sob a correção por algum índice de inflação (IPCA, INCC ou IGP-M).

A medida, se aprovada pelo CVM (Conselho Monetário Nacional), permitiria às famílias da classe média financiar imóveis mais caros com juros menores.

“O Banco Central recebeu bem a proposta, sabe que está há muito tempo sem reajuste”, disse o presidente da Cbic.

O pedido ocorre em momento que incorporadoras e construtoras seguram lançamentos para a classe média, por causa dos juros em alta -que encarecem o crédito imobiliário- e da valorização do metro quadrado, especialmente nas grande capitais.

Em bairros nobres de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, é comum apartamentos de dois dormitórios ultrapassarem o teto de R$ 1,5 milhão. Nesse caso, as famílias precisam recorrer a linhas de créditos mais caras, que não contam com o subsídio da poupança.